EDITORIAL | A farsa exposta
Uma família disposta a tudo para preservar influência, mesmo que isso implique em dividir, enganar e prejudicar a nação. O radicalismo dos Bolsonaros não passa de disfarce para interesses pessoais

As mensagens reveladas pela Polícia Federal, retiradas do celular do ex-presidente Jair Bolsonaro, descortinam não apenas a crueza das relações dentro do clã, mas também a vileza de seus objetivos políticos. A disputa entre pai e filho não tem nada de nobre. Longe da dimensão de uma tragédia shakespeariana, trata-se de um espetáculo vulgar, marcado por insultos, intrigas e traições.
O ex-presidente, já acusado de tentativa de golpe, vê-se agora diante de uma nova frente de problemas: a suspeita de tentar coagir autoridades, em articulação com interesses estrangeiros. As conversas expõem um filho, Eduardo, que não hesita em atacar o próprio pai com ofensas, ao mesmo tempo em que conspira contra adversários internos, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Em sua pressa de assegurar espaço político, não recua diante da possibilidade de sabotar o país.
A troca de mensagens escancara a essência de um projeto de poder que se sustenta no oportunismo e no desprezo pela democracia. A deslealdade de Eduardo não apenas enfraquece Jair Bolsonaro, mas também agrava seu destino jurídico, tornando mais remota qualquer esperança de leniência judicial.
Não há ensinamentos morais profundos nesse enredo. O que resta é a constatação da farsa: uma família disposta a tudo para preservar influência, mesmo que isso implique em dividir, enganar e prejudicar a nação. Os Bolsonaros demonstram, mais uma vez, que seu radicalismo não passa de disfarce para interesses pessoais.
Se há algum valor nessa exposição, é o de servir de alerta. Eleitores e forças políticas precisam compreender que o bolsonarismo, em sua essência, é tóxico e corrosivo. Afastar-se dele é não apenas prudência política, mas condição para proteger a democracia brasileira.
COMENTÁRIOS