Bolsonaro e aliados pedem absolvição no STF e negam envolvimento em trama golpista
Defesas de acusados de tentativa de golpe para permanecer no poder após a derrota nas eleições de 2022 alegam ausência de provas e irregularidades no processo

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou nesta quarta-feira (13) suas alegações finais ao Supremo Tribunal Federal (STF) no processo em que é acusado de liderar uma trama golpista para se manter no poder após a derrota nas eleições de 2022. No documento, os advogados pedem absolvição e sustentam que não há provas que vinculem Bolsonaro à tentativa de golpe.
A entrega das alegações marca o fim do prazo para as manifestações dos sete réus do chamado “núcleo central” da ação penal, que também inclui ex-ministros e ex-comandantes das Forças Armadas. Agora, o processo segue para análise do relator, ministro Alexandre de Moraes, que poderá liberar o caso para julgamento na Primeira Turma do STF, presidida por Cristiano Zanin. A expectativa é que o julgamento aconteça ainda em setembro.
Defesa nega golpe e fala em "perseguição"
Na peça encaminhada ao STF, os advogados de Bolsonaro afirmam que o ex-presidente não participou de qualquer plano para subverter a ordem democrática e acusam o processo de ser conduzido com parcialidade. “Não há uma única prova que o vincule ao plano ‘Punhal Verde e Amarelo’, aos atos de 8 de janeiro ou aos chamados ‘Kids Pretos’”, escreveram.
A defesa também criticou a delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e colaborador do Ministério Público. Segundo os advogados, a delação seria “manipulada e imprestável”, construída para incriminar Bolsonaro. Eles também apontam cerceamento de defesa e alegam que não houve tempo suficiente para análise da prova produzida no processo.
Veja os réus do núcleo 1:
- Jair Bolsonaro - ex-presidente da República;
- Alexandre Ramagem - ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
- Almir Garnier - ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres - ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal;
- Augusto Heleno - ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
- Paulo Sérgio Nogueira (general), ex-ministro da Defesa;
- Walter Braga Netto - ex-ministro de Bolsonaro e candidato à vice na chapa de 2022.
- Mauro Cid (tenente-coronel), ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.
Além de Bolsonaro, apresentaram alegações finais os ex-ministros Walter Braga Netto, Anderson Torres, Augusto Heleno e o deputado federal Alexandre Ramagem. Todos pediram absolvição e afirmaram não ter participado de qualquer ação golpista.
- A defesa de Braga Netto alega que o processo é "maculado por nulidades" e que os fatos atribuídos ao general "não configuram crime".
- Os advogados de Anderson Torres disseram que a acusação é baseada em um “roteiro ficcional” e pediram a transferência do caso para uma vara criminal comum no DF.
- A defesa de Augusto Heleno pediu a suspeição do ministro Alexandre de Moraes e sustentou que o general teve participação "de menor importância", caso seja condenado.
- Já a defesa de Alexandre Ramagem destacou que ele deixou o governo antes do período citado na denúncia e argumentou que, como deputado eleito, não faria sentido participar de uma ação para suprimir o Legislativo.
Riscos de penas altas
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), os réus atuaram para tentar anular o resultado das eleições de 2022 e manter Bolsonaro no poder, por meio da disseminação de desinformação, tentativa de uso das Forças Armadas e estímulo a atos violentos, como os ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Bolsonaro e os demais acusados respondem por cinco crimes:
- Organização criminosa armada
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
- Golpe de Estado
- Dano qualificado com uso de violência
- Deterioração de patrimônio tombado
As penas somadas podem ultrapassar 30 anos de prisão.
Próximos passos
Com as alegações finais entregues, o relator Alexandre de Moraes deve elaborar um relatório e liberar o caso para julgamento. Caberá ao ministro Cristiano Zanin definir a data. A expectativa é de que o julgamento que vai decidir pela condenação ou absolvição dos acusados ocorra em setembro.
As sessões da Primeira Turma do STF às terças-feiras de setembro já estão sendo reservadas para o caso. Além de Alexandre de Moraes, o colegiado é formado pelos ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux
Se condenado, Jair Bolsonaro poderá enfrentar sua primeira sentença penal desde que deixou a presidência. O julgamento será um divisor de águas na crise institucional que teve início após as eleições de 2022.
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