Venezuela impõe tarifas de até 77% sobre produtos do Brasil e rompe acordo bilateral
Medida afeta principalmente alimentos e aumenta tensão diplomática e comercial entre os países

A Venezuela surpreendeu exportadores brasileiros ao impor tarifas de importação que chegam a até 77% sobre produtos do Brasil, incluindo itens com certificado de origem do Mercosul, que até então eram isentos por um acordo bilateral firmado em 2014. A decisão foi comunicada na última sexta-feira (18/07), sem explicação oficial por parte do governo venezuelano, segundo informações do jornal O Globo.
O impacto é especialmente significativo para o setor de alimentos, principal item da pauta exportadora brasileira para o país vizinho. Empresários, em especial do estado de Roraima, relataram surpresa com a medida e estão buscando apoio da Embaixada do Brasil em Caracas.
Segundo relatos, outros países do Mercosul, como Argentina, Paraguai e Uruguai, também foram atingidos pelas novas tarifas. A decisão foi tomada poucos dias antes da entrada em vigor do tarifaço de 50% anunciado pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, ampliando o clima de instabilidade nas relações comerciais da região.
Acordo rompido e crise diplomática
O acordo de 2014 previa a redução progressiva das tarifas de importação entre os países-membros do Mercosul. Para o presidente da Câmara Venezuelana Brasileira de Comércio de Roraima, Eduardo Oestreicher, o retorno abrupto da cobrança de impostos representa uma quebra unilateral do acordo, sem justificativa formal.
A relação entre Brasil e Venezuela está abalada desde julho de 2024, quando o governo brasileiro não reconheceu a legitimidade da reeleição de Nicolás Maduro. O processo eleitoral foi questionado pela oposição e não contou com documentação oficial apresentada pelo regime venezuelano.
Outro fator de tensão recente foi a exclusão da Venezuela do grupo dos Brics, decidida em cúpula realizada na Rússia com oposição declarada do Brasil. Além disso, o país está suspenso do Mercosul desde 2017, por violação dos princípios democráticos do bloco.
Consequências comerciais
Em 2024, o Brasil registrou um superávit comercial de US$ 778 milhões com a Venezuela, com exportações que somaram US$ 1,2 bilhão, puxadas por alimentos. As importações, por sua vez, foram compostas majoritariamente por alumínio, produtos químicos e derivados de petróleo.
Com a nova medida, empresários temem um forte recuo nas vendas e aguardam uma resposta do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O setor cobra uma ação diplomática que possa reverter ou ao menos mitigar os efeitos da decisão.
A falta de previsibilidade nas relações comerciais e o agravamento da instabilidade política entre os dois países acendem o alerta em diversos setores da economia brasileira.
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