Bandeira de Trump e atuação de Eduardo Bolsonaro agravam crise interna no PL
Partido tenta conter danos do tarifaço anunciado pelos EUA e se distanciar de manifestações que associem a direita brasileira ao presidente americano

A exibição de uma bandeira de Donald Trump no Congresso Nacional, na terça-feira (22/07), por deputados da oposição, provocou um mal-estar dentro da bancada do PL, acirrando a crise que o partido enfrenta desde o anúncio do tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil, previsto para entrar em vigor em 1º de agosto.
Parlamentares do próprio PL, em especial os setores mais pragmáticos da legenda, criticaram o ato, considerando que ele desviou o foco do protesto original, que era contestar a decisão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de suspender reuniões de comissões durante o recesso. A decisão de Motta atingiu diretamente comissões presididas por aliados de Bolsonaro, que haviam convocado sessões para aprovar moções de apoio ao ex-presidente.
— Se quisessem levantar a bandeira individualmente, tudo bem. Mas em grupo, aquele gesto só prejudica o partido num momento já delicado — disse um líder da legenda, em reservado.
A atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) também tem causado desconforto entre líderes do PL. Ele é apontado como um dos responsáveis por agravar a crise ao se envolver em articulações internacionais nos Estados Unidos, onde participou de reuniões que antecederam o anúncio das tarifas.
Apesar de negar ter solicitado as tarifas sobre produtos brasileiros, Eduardo é considerado “incontrolável” por colegas de partido, que se queixam da falta de alinhamento e da insistência do parlamentar em manter uma retórica agressiva contra o Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente o ministro Alexandre de Moraes.
Segundo relatos internos, lideranças do PL pediram duas coisas ao deputado desde o início da crise:
- Que parasse de atacar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PL), algo que foi parcialmente atendido após apelos do próprio Jair Bolsonaro;
- E que deixasse claro que nunca defendeu publicamente o tarifaço, o que, na avaliação de aliados, ainda não foi feito de forma convincente.
Eduardo Bolsonaro, no entanto, tem sinalizado que pretende ampliar sua ofensiva política, afirmando que o objetivo original era pressionar o governo norte-americano a aplicar sanções individuais com base na Lei Magnitsky, uma legislação dos EUA voltada à punição de estrangeiros por violações graves de direitos humanos ou corrupção.
O PL, por sua vez, tenta se descolar da imagem de submissão à direita americana e reforçar que a prioridade do partido é defender os interesses do Brasil. O temor é que a associação com o tarifaço prejudique o desempenho eleitoral da legenda em 2026 e alimente a narrativa de que a direita brasileira teria contribuído para medidas que afetam a economia nacional.
Com a crise aberta, parte da cúpula do partido busca uma saída política que preserve a imagem da direita e contenha os danos gerados por uma ala mais radical que, mesmo com pressões internas, demonstra pouca disposição para recuar.
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