Brasil critica tarifas na OMC sem citar Trump e recebe apoio de 40 países
Em discurso contundente, Itamaraty alerta para riscos à estabilidade econômica global e acusa uso de tarifas como instrumento de coerção

O Brasil levou ao debate da Organização Mundial do Comércio (OMC), nesta quarta-feira (23/07), uma crítica direta ao uso de tarifas comerciais como forma de coerção política e ameaça à soberania nacional. Embora não tenha citado diretamente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o discurso feito pelo embaixador Philip Fox-Drummond Gough, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, teve como alvo claro o recente tarifaço norte-americano contra o Brasil.
A iniciativa brasileira recebeu apoio de cerca de 40 países, entre eles os integrantes do Brics, União Europeia e Canadá.
— Tarifas arbitrárias, anunciadas e implementadas em meio ao caos, estão desestruturando as cadeias globais de valor e ameaçam lançar a economia mundial em uma espiral de estagnação e preços elevados — afirmou Gough, ao criticar medidas que, segundo ele, violaram os princípios fundamentais da OMC.
Ainda segundo o embaixador, o Brasil rejeita o uso de medidas comerciais com finalidades políticas internas.
— Como uma democracia estável, temos princípios firmemente enraizados como o Estado de Direito, a separação de poderes, o respeito às normas internacionais e a solução pacífica de controvérsias — completou.
Resposta dos EUA
A delegação americana presente à sessão da OMC rebateu as críticas. Sem mencionar diretamente o Brasil ou a disputa envolvendo o Supremo Tribunal Federal, os representantes dos EUA afirmaram que seu país está preocupado com a competição desigual no comércio internacional, alegando que alguns países não estariam cumprindo as regras e compromissos assumidos ao aderirem à organização.
Tarifas de 50% e acordos bilaterais
O mal-estar diplomático ocorre em meio à expectativa sobre a entrada em vigor, em 1º de agosto, das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros anunciadas pelo governo Trump. A medida gerou forte reação em Brasília, onde o governo admite aplicar tarifas recíprocas.
Enquanto isso, os Estados Unidos já fecharam acordos bilaterais com diversos países para reduzir ou suavizar as tarifas originalmente previstas. Entre eles:
- Reino Unido: 10%, com redução em produtos como aço e carne;
- Vietnã: 20%;
- Indonésia: 19%, com isenção para parte das exportações americanas;
- Japão: 15% (10 pontos abaixo do proposto inicialmente);
- Filipinas: 19%;
- China: acordo preliminar fixou tarifa em 30%, com novas rodadas de negociação esperadas.
A China, que chegou a sofrer tarifas de até 145% em determinado momento, foi o único país a aplicar retaliações diretas contra os EUA. Após negociações, as tarifas foram reduzidas dos dois lados, e, até o momento, não há indicativo de nova escalada.
União Europeia e Canadá também ameaçam retaliação
Além do Brasil, outros países como União Europeia e Canadá já indicaram que poderão reagir caso as tarifas sejam mantidas a partir de agosto. A União Europeia, por exemplo, prepara um pacote de retaliações de até 30% sobre mais de US$ 100 bilhões em produtos norte-americanos.
Diante da tensão crescente, o discurso brasileiro na OMC busca não apenas respaldo internacional, mas também uma consolidação de alianças em defesa do multilateralismo e contra o protecionismo unilateral promovido por Washington.
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