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João Adolfo Guerreiro

JOÃO ADOLFO GUERREIRO | Ozzy

Numa noite quente no ginásio Gigantinho...

Arquivo Pessoal
JOÃO ADOLFO GUERREIRO | Ozzy

João Adolfo Guerreiro

Como hoje tem jogo do Grêmio e a Arena receberá um bom público, não tem como não escrever sobre isso, o falecimento do Ozzy Osbourne. Motivo: o antológico show dele no Gigantinho, quando abraçou a bandeira do Grêmio jogada sobre o palco. Sim, serei mais um dentre milhares ou milhões que escreverão ou postarão algo sobre isso neste dia. Faz parte, é a vida.

Só que eu tenho uma testemunha ocular desta história, o Pedro Goulart Rocha, de minha cidade, que estava nesse show, em 30 de março de 2011, às 21 horas. Ele tem o ingresso até hoje, como podemos ver na foto acima. O lance, segundo ele, aconteceu logo na primeira canção. Entretanto, antes de contar essa história, deixem-me primeiro vasculhar o baú de minha memória sobre Ozzy.

Esses dias assistia ao show de despedida do Black Sabbath, que ocorreu há duas semanas, com minha filha. O Ozzy lá, sentado num trono, frágil, mas cantando bem por cerca de meia hora aquelas canções memoráveis da banda. Emocionante. As lembranças vieram... Conheci o Sabbath pelo LP Live Evil, com o Dio no vocal. Baita disco ao vivo. Minha turma lá da Cohab o escutava no aparelho 3 em 1 do Oberdan Lombardini em fita cassete, depois o Jorginho Ramos o comprou em vinil. Eram os anos 1980. O saudoso Dio possuía uma voz incomparável e, portanto, quando comecei a ouvir as gravações antigas de estúdio da banda, com o Ozzy, pintou um anti climax. Não que ele fosse ruim, mas o outro era, como disse, incomparável.

Então veio o primeiro Rock In Rio e o Ozzy havia acabado de lançar o LP Bark at the Moon. Como a gente era muito ignorante e não sabíamos inglês naqueles tempos sem internet, entendíamos ele cantar algo que, traduzido, soaria "pacto com o demônio". Só depois que o Jorginho, o mais velho, o único que trabalhava da turma - numa fábrica de calçados de Novo Hamburgo (acho que era essa a cidade) - comprou o disco, a gente foi ver o nome da canção como era realmente. Tá ok, era um lance de lobisomem, "uivando para a lua", coisa assim. E o Ozzy, com o guitarrista Jake E Lee, apresentou esse show no Rock In Rio. Ganhou-me, o cara era fodástico no palco e cantava bem, era afinado. Virei fã, escutei os discos anteriores, os magistrais com o falecido Randy Rhoads na guitarra, um virtuose das seis cordas elétricas.

Volto à sala de minha casa, assistindo o show do Sabbath. Fiquei, repito, emocionado vendo o cara ali, debilitado, mas mandando ver, aos 70 e tantos. Putz, que exemplo pra quem já tá mais próximo da terceira idade, distanciando-se a cada mês do vigor da juventude. Na verdade foi a despedida do Ozzy, que morreu ontem. Quando soube, ao ver no Whats App do Consulado do Grêmio de Charqueadas a foto abaixo com a frase "Perdemos um imortal", achei que era falso. Não, não era. Repassei pra vários conhecidos, como se fosse algum conhecido ou da família, pessoas que eu sabia que curtiam demais o seu som - minha irmã já teve até um gato chamado Ozzy. E o Pedro me lembrou de que estivera no show. E agora contamos a memória dele do episódio:

"Pra ir no show comprei ingresso meses antes, fui no primeiro dia, a venda era ali na Multi Som da Praça da Alfândega. No dia do show saí da Unisinos e marquei o hotel Minuano, ali na Farrapos. Fiquei até umas 16 horas e fui pro Gigantinho, tinha jogo do Inter naquele dia. Fila em todo o pátio, dava volta no Gigantinho. Tomei uma Heineken, custava oito pilas na época. A banda de entrada era muito boa. O Ozzy entrou no palco faltando um minuto pras 21 horas e abriu com Bark at the Moon. A bandeira do Grêmio foi passada de mão em mão na pista, chegou até o palco e ele foi na frente pegar, abriu-a e cantou parte de música enrolado nela. Depois, durante a canção Crazy Train, atiraram uma camisa do Inter em cima dele, Ozzy meio que se assustou e a jogou no chão. Um roadie levou a bandeira do Grêmio pra junto da bateria e ela lá permaneceu durante o restante do show. O Ozzy tinha um canhão de espuma sobre o palco, atirando no público. Usava um balde de água, encharcando-se. O show foi uma diversão só".

Uma vez, naqueles distantes anos 1980, li numa revista de rock uma entrevista do Ozzy dizendo que, onde morava, saía para dar uma banda e beber cerveja e os caras de lá não davam bola pra ele: "Aqui, sou apenas mais um dos caras do pedaço". Ele adorava isso, ser um cara comum. Não vi aquela série dele da MTV, Os Osbourne, fora parte de um episódio lá que outro, mas o Ozzy ficou pra mim como um cara legal, simples, mesmo com grana. Por falar nisso, arrecadou quase duzentos milhões no show do Sabbath, para caridade.

Fica com Deus, Ozzy.

PS - O Dio era incomparável, mas tu era fodástico!





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