Câncer colorretal avança entre jovens e levanta alerta após morte de Preta Gil aos 50 anos
Tumor é hoje um dos mais comuns entre os brasileiros, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca)

A morte da cantora Preta Gil, ocorrida neste domingo (20/07), aos 50 anos, reacendeu o debate sobre o avanço do câncer colorretal entre adultos com menos de 50 anos. Diagnosticada com a doença em janeiro de 2023, Preta enfrentava um processo de tratamento intenso, que incluiu uma fase experimental nos Estados Unidos. Segundo comunicado divulgado por seu pai, o cantor Gilberto Gil, a artista faleceu em Nova York, onde buscava alternativas para um quadro agravado pela recidiva do câncer.
Apesar de ter anunciado remissão da doença no fim de 2023, a cantora revelou em agosto de 2024 que o câncer havia retornado, já com metástases em quatro regiões, incluindo linfonodos, peritônio e ureter. A recidiva, como é chamada a volta da doença após tratamento, costuma indicar um comportamento mais agressivo do tumor e representa um desafio ainda maior à recuperação.
O câncer colorretal se desenvolve no intestino grosso (cólon) e na parte final do reto. É hoje um dos tumores mais comuns entre os brasileiros, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Nos últimos anos, o número de casos entre jovens tem aumentado significativamente, tanto no Brasil quanto no exterior.
Um relatório da American Cancer Society, divulgado em janeiro de 2024, apontou crescimento acelerado da incidência entre pessoas com 20, 30 e 40 anos. Além disso, esses tumores costumam ser mais agressivos e detectados em estágios mais avançados, o que compromete as chances de cura.
Sintomas, diagnóstico e rastreamento
Assim como a maioria dos cânceres, o colorretal pode evoluir de forma silenciosa. Entre os sintomas mais comuns estão:
- Alterações no hábito intestinal (prisão de ventre ou diarreia persistente);
- Presença de sangue nas fezes;
- Dores abdominais frequentes;
- Fezes finas ou em formato alterado.
O rastreamento inicial é feito por exame de sangue oculto nas fezes. Caso o resultado seja positivo, é indicada a realização de uma colonoscopia — exame que permite visualizar diretamente o interior do intestino. Especialistas recomendam o rastreamento a partir dos 45 anos, mesmo para pessoas assintomáticas, dada a crescente incidência precoce.
Há também investigações em andamento sobre o papel de fatores ambientais e microbiota intestinal (desequilíbrio entre bactérias boas e ruins do intestino) como possíveis causas para o aumento de casos em jovens.
Por que Preta Gil buscou tratamento nos EUA?
Em maio deste ano, Preta Gil revelou em suas redes sociais que havia viajado para Washington, nos EUA, para continuar o tratamento contra a doença. Em março, ela já havia comentado que "fez tudo o que podia no Brasil" e que estava entrando numa “fase complicada”, com maiores chances de cura fora do país.
A escolha pelo tratamento internacional reflete as limitações da oncologia no Brasil, especialmente no que diz respeito à disponibilidade de novas drogas e ensaios clínicos. Enquanto nos Estados Unidos há centenas de pesquisas em andamento e acesso mais ágil a inovações, no Brasil os obstáculos envolvem:
- Demora na aprovação de medicamentos pela Anvisa;
- Falta de inclusão nos planos de saúde e no SUS;
- Oferta restrita de ensaios clínicos gratuitos.
Nos EUA, os custos de exames, internações e procedimentos são geralmente pagos pelo plano de saúde, enquanto o laboratório farmacêutico financia apenas o medicamento em teste. No Brasil, ainda são poucos os pacientes que conseguem ultrapassar essas barreiras e participar de estudos no exterior.
Um estudo apresentado no Congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica evidenciou essa disparidade: enquanto a agência norte-americana FDA aprova novas drogas, em média, em 184 dias, o prazo no Brasil chega a 331 dias, quase o dobro.
Um alerta necessário
A morte de Preta Gil chama atenção não apenas por sua relevância artística, mas também por ilustrar um problema de saúde pública crescente e pouco debatido. O câncer colorretal está deixando de ser uma doença exclusiva de pessoas mais velhas e passa a afetar populações mais jovens, urbanas e expostas a fatores como alimentação inadequada, sedentarismo e estresse.
Especialistas reforçam a importância do diagnóstico precoce, do acesso igualitário ao tratamento e da valorização da pesquisa científica nacional, para que pacientes brasileiros não precisem buscar esperança a milhares de quilômetros de casa.
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