Fiergs estima perda de 22 mil empregos e se reúne com Alckmin em busca de soluções para tarifaço
Taxação de 50% imposta por Trump já provoca tensões econômicas e políticas; Fiergs defende medidas emergenciais para proteger indústria gaúcha

Em meio à crescente tensão diplomática entre Brasil e Estados Unidos, uma comitiva do Sistema FIERGS, liderada pelo presidente Claudio Bier, reúne-se nesta segunda-feira (21), às 16h, com o presidente em exercício e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, em Brasília. O objetivo do encontro é discutir alternativas ao tarifaço anunciado pelo governo norte-americano, que impõe alíquota de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump como retaliação à atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) contra Jair Bolsonaro, ameaça não apenas o comércio bilateral, mas também a estabilidade econômica de setores estratégicos no Brasil. Segundo estudo da FIERGS, o Rio Grande do Sul — segundo estado mais afetado — pode sofrer um impacto de até R$ 1,9 bilhão no PIB. A estimativa mais alarmante aponta para a perda de 22 mil postos de trabalho na indústria gaúcha.
— A situação é crítica. Estamos diante de uma crise que ultrapassa as fronteiras da política e atinge diretamente as cadeias produtivas, o emprego e a renda. A reunião com Alckmin busca alternativas que nos ajudem a atravessar esse cenário e a pressionar por uma solução diplomática com os EUA — afirmou Claudio Bier.
Setores mais afetados
Dados da Unidade de Estudos Econômicos da FIERGS revelam que, em 2024, 11,2% das exportações da indústria de transformação gaúcha tiveram os EUA como destino. O setor mais vulnerável é o de armas de fogo (85,9% das exportações para os EUA), seguido por calçados de couro, que emprega milhares de trabalhadores no estado. A ameaça de retração atinge toda a cadeia produtiva desses segmentos, desde a indústria até os serviços e o comércio.
Propostas emergenciais
Entre as propostas apresentadas pela FIERGS ao governo federal e à Confederação Nacional da Indústria (CNI), estão:
- Não adoção das tarifas ou prorrogação de sua vigência por 90 dias
- Apoio financeiro emergencial, como linhas de crédito e incentivos similares ao extinto Reintegra
- Suspensão temporária de encargos trabalhistas e previdenciários, além da possibilidade de redução de jornada e salário
- Mobilização de empresas exportadoras brasileiras com parceiros comerciais nos EUA para pressionar contra as sanções
Escalada política amplia incertezas
O encontro da FIERGS com Alckmin ocorre em uma semana marcada por tensão política. Após as medidas cautelares impostas pelo STF contra Bolsonaro — incluindo o uso de tornozeleira eletrônica e bloqueio de redes sociais —, os EUA anunciaram a revogação de vistos diplomáticos de nove ministros do STF e do procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Além disso, aliados de Trump, como Eduardo Bolsonaro, articulam o uso de legislações como a Lei Magnitsky e a Ieepa (Lei de Poderes Econômicos Internacionais de Emergência) para ampliar as punições a autoridades brasileiras. Existe ainda o temor de que novas sanções políticas e econômicas sejam anunciadas nos próximos dias, com possíveis reflexos sobre o turismo e o sistema financeiro.
Apesar do recesso parlamentar, congressistas ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro estão em Brasília tentando articular apoio à aprovação de um projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Para eles, a retirada das tarifas dependeria da aprovação da anistia, uma narrativa que vem sendo rechaçada por setores moderados da direita e pela opinião pública.
Governo busca solução diplomática
O vice-presidente Alckmin, que também lidera o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, está à frente das negociações com os EUA. A expectativa é que o governo brasileiro busque canais diplomáticos e comerciais para reverter ou ao menos mitigar o impacto das tarifas.
Enquanto isso, a população e os setores produtivos aguardam sinais claros de contenção da crise.
— Não podemos permitir que disputas políticas comprometam a economia real. A indústria precisa de previsibilidade e apoio urgente — concluiu Bier.
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