Alta na renda faz quase 1 milhão de famílias deixarem o Bolsa Família em julho
Segundo o governo, saídas refletem avanço na formalização do trabalho e estabilidade de renda; 921 mil famílias foram desligadas por superarem o limite de rendimento

O mês de julho marcou a saída de 921 mil famílias do programa Bolsa Família em razão do aumento da renda domiciliar, segundo dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS). Com isso, o total de beneficiários caiu de 20,5 milhões em junho para 19,6 milhões, atingindo o menor número desde a reformulação do programa, em março de 2023.
Duas situações motivaram os desligamentos: 536 mil famílias cumpriram o prazo máximo de 24 meses da chamada “regra de proteção”, que garante 50% do benefício a quem ultrapassa o limite de renda (R$ 218 por pessoa), mas permanece com ganho inferior a meio salário mínimo. Outras 385 mil famílias passaram a ganhar acima desse valor, deixando de se enquadrar nos critérios do programa.
Segundo a secretária nacional de Renda de Cidadania, Eliane Aquino, a redução de beneficiários ocorre por motivos positivos.
— São famílias que conseguiram melhorar sua renda de maneira estável, saindo da condição de pobreza — afirmou.
Ela também destacou que, se essas pessoas voltarem a ter renda inferior ao limite, terão prioridade para retornar ao programa.
Avanço da formalização
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, entre janeiro e maio de 2025, 2,01 milhões de beneficiários do Bolsa Família foram contratados com carteira assinada, representando 17,1% das admissões no período. O saldo líquido de empregos formais entre esse grupo foi de 606,4 mil, equivalente a 57,7% do saldo geral de empregos formais no país.
O governo tem feito parcerias com empresas para incentivar a contratação de pessoas inscritas no Cadastro Único e beneficiários do programa. Segundo Eliane Aquino, o objetivo é desmistificar o receio de que a formalização do trabalho leve automaticamente à perda do benefício, ideia ainda recorrente entre mulheres atendidas pelo programa.
— Estamos rodando os estados e dialogando com essas mulheres para mostrar que assinar a carteira pode representar um novo ciclo de independência financeira — disse a secretária.
Informalidade e desafios
Apesar do avanço, a elevada informalidade entre os beneficiários ainda preocupa o governo. A economista Laura Müller Machado, do Insper, avalia que a saída de quase 1 milhão de famílias é significativa, mas poderia ser maior com monitoramento mais eficaz da renda informal.
— O programa não incentiva o não trabalho, mas pode acabar favorecendo a informalidade, pois o trabalhador formal é rapidamente excluído do benefício, enquanto o informal pode seguir recebendo — afirmou.
Ela defende que o Bolsa Família ofereça transição mais gradual e até incentivos financeiros para quem ingressa no mercado formal.
Novas regras em vigor
Em maio, o governo editou mudanças na regra de proteção. Agora, somente famílias com renda entre R$ 218 e R$ 706 por pessoa podem receber 50% do valor do benefício por até 12 meses. O novo teto não acompanha mais o salário mínimo, e o tempo de permanência na regra foi reduzido pela metade.
Neste primeiro mês sob as novas normas, 36 mil famílias passaram a ser atendidas pela regra de proteção.
Impacto fiscal e reposição
A saída de beneficiários não significa redução da cobertura social, já que as vagas abertas podem ser preenchidas por novas famílias em situação de pobreza que ainda não estavam na folha de pagamento do programa. No entanto, o movimento ajuda a aliviar a pressão sobre o Orçamento. No início do ano, o governo negociou com o Congresso um corte de R$ 7,7 bilhões na reserva destinada ao Bolsa Família, para acomodar outras despesas públicas.
A expectativa do governo é que a política de incentivo ao emprego continue contribuindo para reduzir a dependência de transferências diretas e estimular a autonomia econômica das famílias em vulnerabilidade.
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