Embarques por Rio Grande têm contratos sob revisão após tarifa dos EUA
Celulose, sebo, utensílios domésticos, cutelaria, borracha, fumo e alimentos estão entre os produtos exportados para os EUA por Rio Grande

As exportações feitas pelo Porto de Rio Grande estão passando por um momento de incerteza. A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, que entra em vigor em 1º de agosto, levou empresas gaúchas a rever contratos e reavaliar estratégias comerciais. Embora os embarques tenham mantido média semelhante à do primeiro semestre de 2024, a expectativa para o restante de 2025 é marcada por apreensão. As informações são do Jornal do Comércio.
De acordo com a Portos RS, cerca de 800 mil toneladas das 25 milhões movimentadas anualmente pelo terminal têm os EUA como destino. A lista inclui celulose, sebo, utensílios domésticos, cutelaria, borracha, fumo e alimentos. Com o aumento da tarifa, esses produtos correm o risco de encalhar ou se tornarem inviáveis economicamente para o mercado americano.
Em contraste com o Porto de Santos, onde houve uma corrida para antecipar os envios, Rio Grande registra um movimento mais cauteloso. Exportadores estão optando pela revisão de contratos e renegociação de preços, avaliando como absorver o impacto dos novos custos.
Um dos setores mais atingidos é o da carne bovina. Após a entrada em vigor de uma tarifa inicial de 10% em abril, os embarques brasileiros para os EUA caíram drasticamente. No Rio Grande do Sul, o prejuízo estimado apenas com produtos em trânsito ou já produzidos pode chegar a US$ 160 milhões, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). A carne in natura e industrializada representou quase 15% das receitas com proteínas exportadas pelo estado aos norte-americanos no primeiro semestre de 2025.
Frigoríficos do Centro-Oeste, principais exportadores ao mercado norte-americano, já sinalizam redistribuição das cargas para o mercado interno. Essa medida pressiona os preços do boi, inclusive no RS, e pode levar à superoferta e à desaceleração das atividades em unidades voltadas à exportação.
Além da carne, setores como o coureiro e o madeireiro também acompanham o cenário com preocupação. Os EUA respondem por 25% das vendas externas de couro gaúcho, utilizado principalmente no revestimento de veículos. Se os novos contratos forem suspensos, a perda estimada pode ultrapassar US$ 140 milhões.
A indústria de base florestal, com 26% das exportações voltadas aos americanos, também prevê prejuízos. Entre janeiro e junho, o setor já havia exportado US$ 145 milhões. Segundo a Ageflor, empresas começaram a reduzir a produção e conceder férias como forma de mitigar os impactos.
Lideranças setoriais cobram uma solução diplomática por parte do governo federal, diante do risco de retração econômica e aumento do desemprego. O temor é de que, sem acordo, as consequências se agravem nos próximos meses, atingindo não apenas a indústria, mas também o consumidor final.
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