Compra de minas de níquel no Brasil por empresa chinesa preocupa siderúrgicas dos EUA
Aquisição de minas da Anglo American por estatal chinesa reacende disputa por minerais estratégicos e mobiliza pressão dos EUA sobre o Brasil

A aquisição de minas de níquel no Brasil por uma mineradora chinesa tem gerado preocupação entre siderúrgicas americanas e entrou no radar da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Segundo informações do jornal O Globo, a AISI, associação que representa o setor siderúrgico dos EUA, pediu ao governo Donald Trump que manifeste preocupação junto a Brasília sobre a transação.
O interesse chinês em minerais estratégicos — como níquel, cobre, lítio, nióbio e terras-raras — tem sido um dos pontos de atrito na disputa comercial entre Washington e Pequim. Esses insumos são fundamentais para a indústria de alta tecnologia e para a transição energética.
De acordo com especialistas ouvidos por O Globo, os chineses estão em vantagem nessa corrida, principalmente no beneficiamento desses minerais. O episódio em que Pequim suspendeu exportações de terras-raras, em resposta a tarifas impostas por Trump, reforçou a vulnerabilidade dos EUA no setor e transformou o tema em uma questão geopolítica.
A preocupação da AISI se intensificou após o anúncio da compra, pela australiana MMG — controlada pela estatal chinesa China Minmetals —, de todas as operações de níquel da Anglo American no Brasil. O negócio, avaliado em até US$ 500 milhões, envolve minas em Goiás e projetos em Mato Grosso e no Pará.
A entidade americana argumenta que, se concluída, a transação dará à China maior influência sobre as reservas brasileiras de níquel, somando-se ao domínio já exercido no mercado da Indonésia. Juntas, Brasil e Indonésia concentram quase metade dos recursos mundiais do mineral, usado principalmente na produção de aço inoxidável e, cada vez mais, em baterias.
O caso também chegou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), após denúncia da CoreX Holding, empresa do empresário turco Robert Yuksel Yildirim. No entanto, segundo fontes consultadas por O Globo, a tendência é de arquivamento, já que a MMG não possui operações no Brasil e, portanto, não haveria concentração de mercado no país.
Enquanto isso, autoridades da União Europeia analisam a operação, pois tanto a Anglo quanto a MMG atuam no mercado europeu de níquel. Diferentemente do que ocorre nos EUA, a legislação brasileira não prevê interferência direta do governo em negociações privadas na mineração — exceto no caso do urânio.
Em nota, a Anglo American afirmou que buscou um comprador responsável e que o acordo com a MMG representa benefícios para empregados, comunidades locais e acionistas. A MMG, por sua vez, declarou que seguirá todas as exigências regulatórias necessárias e que pretende colaborar com as autoridades competentes.
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