Bolsonaro orientou Cid a distribuir remédio chinês sem autorização no Brasil durante a pandemia, diz O Globo
Mensagens revelam que ex-presidente ordenou entrega da proxalutamida, substância em fase de testes e proibida pela Anvisa

Segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo, o ex-presidente Jair Bolsonaro determinou que o tenente-coronel Mauro Cid distribuísse a aliados um medicamento sem registro no Brasil durante a pandemia de covid-19. Tratava-se da proxalutamida, um fármaco produzido na China e estudado para combate a determinados tipos de câncer, mas que nunca recebeu aprovação de agências regulatórias de referência, como a Anvisa, a FDA (EUA) ou a EMA (União Europeia).
De acordo com o jornal, diálogos obtidos pela Polícia Federal a partir do celular de Cid em 2021 mostram que ele organizou a obtenção e a entrega do remédio a pedido direto de Bolsonaro. As mensagens indicam que o ex-presidente autorizava pessoalmente a distribuição, inclusive para políticos e lideranças religiosas.
A proxalutamida chegou a ter estudos autorizados no Brasil, mas as pesquisas foram suspensas após a descoberta de irregularidades, incluindo importação de quantidades maiores que as permitidas. O Ministério Público Federal abriu inquérito para apurar possível desvio de cargas do medicamento.
Ainda conforme O Globo, os registros revelam que Bolsonaro e Cid trataram da entrega da substância para diferentes destinatários, entre eles familiares de parlamentares e apoiadores. Em um dos diálogos, o então presidente responde a Cid com a ordem: “Mande a proxalutamida”.
Investigadores ouvidos pelo jornal afirmaram que a distribuição da droga, sem registro sanitário, pode configurar crime previsto no artigo 273 do Código Penal, com pena de 10 a 15 anos de prisão.
As defesas de Jair Bolsonaro e de Mauro Cid foram procuradas, mas não se manifestaram.
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