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São Jerônimo, RS,27/08/2025

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João Adolfo Guerreiro

JOÃO ADOLFO GUERREIO | Da calculadora à IA nas redações escolares

Prefiro ‘os erros do meu português ruim’, tão meus

Arquivo Pessoal
JOÃO ADOLFO GUERREIO | Da calculadora à IA nas redações escolares Só fico imaginando um futuro onde a absoluta maioria das pessoas não saberá realizar contas ou escrever sem um computador ao lado ou celular na mão

João Adolfo Guerreiro

Bem que os entendidos já haviam dito que os jornalistas seriam um dos profissionais mais afetados com a utilização da Inteligência Artificial no mercado de trabalho. Pois ontem tive a confirmação in loco disso. E não foi na redação do Portal de Notícias, foi pedalando pela 1° de Maio, em Charqueadas, indo à dona Idelvira buscar minha ZH...

Um conhecido, que aguardava seu busão pra São Jerônimo, cumprimentou-me e parei pra conversar brevemente. Tratamos sobre livros e artigos para jornal, e ele me disse que estava usando IA em alguns de seus textos:

— O parágrafo final de meu artigo fiz com IA, ficou perfeito! Eu só adequei, depois.

Sua afirmação me levou para os idos de 1980, quando estudava no Cruz de Malta do diretor Tigrão e as calculadoras bombavam como última novidade tecnológica no ambiente escolar. A professora Arani não deixava usar nas aulas de Matemática, pois nós deveríamos saber realizar as contas. As calculadoras, todavia, ganharam essa parada e, depois de um tempo, todo mundo as usava. Que decorar tabuada, qual nada, como fazíamos no Ramiro Barcellos da diretora dona Chiquita.

Após esse breve devaneio, voltei para a parada da 1º de Maio e para meu amigo, que complementou:

— Uso, mas não deixo meus alunos de Português usarem, digo que primeiro eles tem de aprender por eles, pra somente depois utilizar a IA nas suas redações.

Acho que ele vai perder essa, que nem a professora Arani perdeu, no passado. Mas então, esse pessoal vai saber escrever? A única maneira de saber será colocá-los numa sala, sem celular, e mandá-los escrever. Nessa hora, quem sabe, saberá.

Só fico imaginando um futuro onde a absoluta maioria das pessoas não saberá realizar contas ou escrever sem um computador ao lado ou celular na mão. E aqui volto para o jornal. Imagens já são utilizadas via IA às pampas por aí, dá pra ver. Eu prefiro desenhistas humanos. Estou pra lançar um conto de bom tamanho no próximo Sarau Literário de Charqueadas e, para as ilustrações, contratei um artista local cujo trabalho conheci na edição do ano passado do Sarau e apreciei seu estilo. Isso: estilo, identidade e criatividade, isso não há coisa que imite, pois tem as digitais do artista, seu olhar criativo sobre o mundo que o cerca.

Mas textos jornalísticos, se bem informada pelo cliente, a IA produz, o que realmente coloca o emprego desses profissionais em enorme risco. Depois, é só adequar, como meu amigo fez. Facilita? Ah, facilita. Todavia, prefiro escrever, pois adoro fazer isso. Usar IA, nesse caso, seria como fazer musculação virtualmente: inócuo. Até textos literários ela produz, tenho certeza, mas daí é algo que considero quase anti-ético, quase plágio, ou seja, o escritor faz um engodo ao leitor, pois é uma máquina, e não ele, que produz os textos. Desses textos que se produzem à quilo para os incautos: não é literatura, é isopor.

Minhas crônicas são minhas, pura INdoJ (Inteligência Natural do João), por mais parca que a mesma seja. Porém, são meus sentidos que captam a vida em meu redor e meu cérebro e mãos que os repassam para os textos, com minha identidade, estilo, criatividade, perícia e até "com os erros do meu português ruim", como na canção do Roberto. Sou humano imperfeito, já soltei pum em casamento, logo minhas crônicas jamais serão perfeitas como se fossem oriundas de uma máquina. "E o erro foi meu Mas estar ao seu lado bastaria", né Paralamas? A propósito, recordo também da canção do Montenegro: "Quantos defeitos sanados com o tempo? Eram o melhor que havia em você". Não quero perder o que pode ser o melhor que há em mim!

Claro, a tecnologia é algo positivo, que bom que ela venha e possibilite avanços e novas possibilidades para os seres humanos, otimizando nosso tempo e possibilitando melhorar a vida e, em determinadas situações, salvá-la. Entretanto, isso não se aplica em todos os caos, onde a alma humana viva se faz necessária, mesmo com os erros do seu português ruim, mas cheia de verdade.




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