João Adolfo Guerreiro
JOÃO ADOLFO GUERREIRO | De novo o lixo em Charqueadas
Acho que até o prefeito não que pagar taxa de lixo

João Adolfo Guerreiro
Nos últimos trinta anos é a terceira vez que a questão do lixo gera polêmica em Charqueadas: na primeira, no início dos anos 1990, durante o governo José Manoel, por um projeto que visava instalar um depósito de lixo tóxico na cidade; na segunda, como agora, por uma taxa do lixo, num dos governos de Davi Gilmar. Ambos goraram. Agora temos o terceiro, novamente uma taxa, "uma exigência legal imposta pela Lei Federal nº 14.026/2020, o Novo Marco Legal do Saneamento Básico", conforme informa a prefeitura, que enviou para a Câmara de Vereadores um projeto de lei que está tramitando e pode ser votado hoje.
Quem quer pagar taxa, ainda mais de lixo? Ninguém, claro. Nem eu e tampouco tu, caro leitor. "Que joguem no lixo a taxa do lixo!", li num cartaz em manifestação ocorrida na sexta-feira. Apoiado, claro! Ninguém quer pagar taxa, imposto, ter desconto previdenciário maior no contracheque depois de aposentado. Assalariado ou empresário, crente ou ateu, esquerda ou direita, gremista ou colorado, homem ou mulher, homo ou hétero, ninguém quer pagar mais nada, tá todo mundo querendo ficar com o seu dinheiro no bolso. Com certeza os vereadores, tanto de situação quanto de oposição, também não querem. Imagino, inclusive, que mesmo o prefeito, que enviou o projeto, o seu vice e seus secretários, igualmente não querem pagar. Entretanto, a lei federal está aí e está valendo, não é totó. E agora? O que fazer? Como fazer?
Em São Jerônimo, aqui do lado, já pagam. Vi gente comentar no face do Portal de Notícias que paga 120 pila de taxa de lixo por ano em SJ, cobrado junto com o IPTU. Aqui não se sabe o quanto se pagará por isso, está a se definir. Definir na Câmara de Vereadores, hoje. Logo, se tu tá interessado em saber sobre e ver como isso será debatido e votado, tem de ir lá, às 18 horas. Tem uns 200 lugares no plenário, vá cedo pra não ficar em pé. O certo é que tu, cidadão eleitor e contribuinte, é que vai pagar depois. Até digo que, pelo que estou lendo e ouvindo por aí, desta a gente não vai escapar, a questão será o tamanho da conta.
Imagine-se, por exemplo, se der uns vinte pilas por casa, ao fim e ao cabo? Serão 240 paus a mais no final do ano pra essa taxa do lixo. Pra algumas pessoas aqui em Charqueadas não será nenhum fim do mundo, mas para alguém que more sozinho ou tenha família e viva com um salário mínimo por mês, bah, daí já faz uma boa diferença ao final do ano. Isso será levado em conta, a situação econômica das pessoas? Como não se sabe o valor, pode ser até mais, então. Imaginem, por exemplo, suponhamos, quem sabe, mais quinhentão em dezembro, além do IPTU? Então, cheque em branco não, oras. O cidadão contribuinte e eleitor tem de saber antes quanto vai custar o lixo dele.
Ainda mais nesses tempos em que vivemos e, justamente, aqui em Charqueadas. Há muito que os salários públicos e privados vem sendo arrochados no Brasil e perdendo poder aquisitivo. Sem aumentos salariais, reajustes insuficientes, mas com mais descontos previdenciários nos salários. Reforma da Previdência, que já tem gente por aí dizendo que outra tem de ser feita. Sem falar no Trump. Sim, no Trump e suas taxas contra o Brasil. Charqueadas é um polo siderúrgico, setor que é atingido pelas taxas. Com o passar do tempo e a partir de como isso evolua, como isso atingirá as empresas locais e, por conseguinte, empregos e salários de charqueadenses futuros pagadores de taxa do lixo? Tudo afeta o bolso do trabalhador assalariado e, se o afeta, afeta o comércio local.
Vamos voltar aos 240 pilas por ano. Com essa grana, por exemplo, vou no Muralha comer algo com as gurias e deixo um caixa pro Paulinho e o Leandro. Economia ativada, grana circulando na cidade, emprego e renda. A economia é uma totalidade, tudo se relaciona e, se tirar de um lugar, vai faltar para outro. Não existe almoço grátis e nem mágica em economia, é um sistema de vasos comunicantes. Isso que nem falei - e não vou falar - da IA e dos empregos que desaparecerão com ela, para não ser acusado de profeta do apocalipse da taxa de lixo. O fato, contudo, é que Charqueadas faz parte do Brasil e do mundo e o Brasil e o mundo a afetam, sem que ela possa fazer nada. Entretanto, em relação a sua taxa do lixo, ela pode, cabe a ela definir.
Quem viver, verá e pagará.
Uma boa semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vão hoje à Câmara de Vereadores, selecionem seu lixo, vivam e fiquem com Deus.
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