Chupeta para adultos? Curso de Psicologia da Ulbra analisa o fenômeno
Sob a ótica da Terapia do Esquema, professora explica o comportamento

Carla Miller Trainini
Ulbra São Jerônimo
Nas últimas semanas, um comportamento curioso chamou a atenção: o uso de chupetas por adultos. Iniciou na China e nos Estados Unidos, até chegar ao Brasil pelas redes sociais. Embora pareça apenas uma excentricidade, a prática tem despertado debates clínicos e sociais.
A psicóloga e professora do curso de Psicologia da Ulbra São Jerônimo, Cristiane dos Santos Mathias, analisa o tema a partir da Terapia do Esquema, abordagem criada pelo psicólogo Jeffrey Young, que ajuda a compreender comportamentos ligados a necessidades emocionais não atendidas.
Segundo a docente, o hábito pode estar relacionado às primeiras experiências de prazer e segurança ainda na infância.
— Quando o bebê mama, além da nutrição, ele vivencia afeto, cuidado, voz e olhar da mãe ou do cuidador. Na ausência dessa presença, a criança pode buscar substitutos como o dedo ou a chupeta, que funcionam como objetos de conforto — explica a professora Cristiane, que é especialista em Psicologia Comportamental.
Com o passar do tempo, esses recursos podem se consolidar como estratégias de enfrentamento diante de situações desagradáveis. A chupeta, neste caso, atua como um aliviador, oferecendo efeito calmante.
— O problema surge quando, na vida adulta, ela passa a ser usada para lidar com frustrações emocionais profundas — alerta a psicóloga Cristiane, também formada em Terapia dos Esquemas.
Terapia do Esquema
Na perspectiva da Terapia do Esquema (TE), o uso da chupeta está diretamente ligado a necessidades emocionais básicas não supridas na infância, como segurança, afeto, estabilidade e acolhimento. Quando essas necessidades não são atendidas, formam-se os chamados Esquemas Iniciais Desadaptativos, que são padrões emocionais e cognitivos disfuncionais. O adulto pode, então, recorrer a comportamentos infantis como forma de escapar da dor emocional.
— Muitas vezes, indivíduos que utilizam chupeta na vida adulta cresceram em ambientes frios, distantes ou imprevisíveis. Nesse contexto, o objeto atua como um recurso autoaliviador. A chupeta funciona como um objeto transicional, trazendo a sensação de cuidado e segurança que faltou no passado — destaca a psicóloga, que atualmente cursa pós-graduação em Farmacologia com foco na compreensão integrada entre psicoterapia e farmacologia no tratamento de transtornos mentais.
O tratamento clínico, segundo a professora, não deve focar apenas na eliminação do objeto, mas em compreender o seu significado emocional. Assim, longe de ser apenas uma curiosidade, o uso da chupeta por adultos revela raízes emocionais profundas. A Psicologia, através da Terapia do Esquema, oferece ferramentas para ressignificar esse comportamento e promover bem-estar e autonomia.
— Mais importante do que tirar a chupeta é entender quais necessidades ela simboliza. O processo terapêutico busca fortalecer o Modo Adulto Saudável, ensinando o paciente a desenvolver estratégias de autorregulação emocional mais adaptativas — conclui a professora Cristiane.
Este tema, que pode causar estranhamento à primeira vista, é discutido de forma científica e responsável no curso de Psicologia da Ulbra São Jerônimo. Terapia do Esquema é um assunto abordado em disciplinas como Clínica-Cognitivo Comportamental II.
Para os futuros psicólogos, compreender fenômenos como esse amplia a capacidade de análise clínica e de empatia, preparando-os para lidar com diferentes demandas que surgem na prática profissional. Para a sociedade, a reflexão ajuda a reduzir preconceitos e a promover um olhar mais humano e consciente sobre os comportamentos, fortalecendo a saúde mental coletiva - compromisso que a Ulbra São Jerônimo assume ao fomentar esse debate por meio do curso de Psicologia.
Para ler mais sobre o tema:
- Furtado, L. A. R., & Vieira, C. A. L. (2014). A psicanálise e as fases de organização da libido. Revista Scientia, 2(4), 93-107.
- YOUNG, J. E.; KLOSKO, J. S.; WEISHAAR, M. E. Terapia do Esquema: Guia de Técnicas Cognitivo-Comportamentais Inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008.
- LOPARIC, Z. (1997). Winnicott: uma psicanálise não-edipiana. Revista de Psicanálise, Porto Alegre, 375-87.
- LOUREIRO, Maria Isabel. Necessidades emocionais básicas e os esquemas iniciais desadaptativos: implicações para a prática clínica. Revista de Psicoterapia, v. 33, n. 122, p. 1-18, 2021.
COMENTÁRIOS