ENTREVISTA | Joel Maraschin, novo secretário de Desenvolvimento Econômico do RS
'Não adianta ficar lamentando ainda pela Jacuí I, Polo Naval, Mina Guaíba. Os gestores precisam virar a página e reinventar seus municípios (...), ter um plano de desenvolvimento e atração de investimentos claro, moderno, conectado com o mundo hoje', disse em entrevista ao Portal de Notícias

Marcos Essvein
Na próxima segunda-feira (13/06), o ex-vereador de Butiá, Joel Maraschin, 34 anos, assume a titularidade da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul (Sedec-RS), cargo inédito para um representante da região Carbonífera. A solenidade acontece às 11h30, no Salão Alberto Pasqualini, do Palácio Piratini, em Porto Alegre.
Maraschin, que até então era o secretário adjunto, assume a pasta após a saída do deputado Edson Brum, que deixou o cargo e o mandato na Assembleia Legislativa para assumir como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS).
Em entrevista exclusiva ao Portal de Notícias, Maraschin fala sobre perspectivas para o desenvolvimento da região Carbonífera, que precisa “diversificar sua matriz econômica”. O novo secretário também alerta as administrações municipais para “acordar, ser pró-ativas, correr atrás, ter um plano de desenvolvimento e atração de investimentos claro, moderno, conectado com o mundo hoje, e aí sim, chegando até nós, a gente sabe como e onde encaminhar para que possam buscar investimentos”.
A transição do carvão para energias renováveis, o repasse de recursos do Estado para obras em rodovias federais e as eleições 2022 também pautam a entrevista. Confira:
ENTREVISTA
Joel Maraschin, futuro secretário da Sedec-RS
Há anos a região Carbonífera carece de investimentos de maior vulto, públicos ou privados, para a geração de empregos e renda. O que a região pode esperar do futuro secretário neste sentido?
Hoje os municípios da Região Carbonífera já possuem um dos maiores descontos do programa Fundopem/Intregrar da Secretaria, que é responsável por abatimento de ICMS na indústria em cima do investimento realizado, ou na ampliação de uma empresa, ou na instalação. Tem municípios que o desconto ultrapassa os 60% mensal na guia de recolhimento de ICMS na indústria, então o problema não é há falta de incentivos do Estado para a região atrair empresas. Em 15 meses como secretário adjunto, pouquíssimos prefeitos, vereadores e secretários de Desenvolvimento aqui da região me procuraram nesse período para entender como nossos programas funcionam e como podem articular a atração de investimentos para sua cidade. Então, as administrações municipais precisam acordar, ser pró-ativas, correr atrás, ter um plano de desenvolvimento e atração de investimentos claro, moderno, conectado com o mundo hoje, e aí sim, chegando até nós, a gente sabe como e onde encaminhar para que possam buscar investimentos. O Estado não tem como definir sozinho, ou empurrar uma empresa para cidade A ou B. A região e os municípios precisam se organizar, sair do século 19, entender as pequenas revoluções que estão acontecendo com a chegada da Indústria 4.0, e diversificar sua matriz econômica. Não adianta ficar lamentando ainda pela Jacuí I, Polo Naval, Mina Guaíba. Os gestores precisam virar a página e reinventar seus municípios, aqueles que já estão fazendo isso, estão decolando no RS. Aqueles que resistirem a isso e ainda ficarem insistindo em modelos de indústrias que estão sendo banidos mundo a fora, vão perder o trem do tempo da história. E eu estou aqui para ajudar a abrir a cabeça dos gestores, orientar, mostrar, guiá-los para o futuro.
Na semana passada, o senhor participou de missão governamental na Europa que teve como pautas principais a transformação industrial, tecnologia e energia sustentável. Como o Estado trabalha a transição do carvão - e sua mão de obra - para estas novas fontes de energia?
O Programa Avançar no Meio Ambiente já prevê um investimento de R$ 5 milhões de reais para estudos de conversão da matriz econômica das regiões carboníferas do baixo Jacuí e da fronteira para os próximos anos. Eu tenho viajado o mundo nestes últimos 15 meses estudando como as grandes economias estão trabalhando seus projetos de desenvolvimento econômico para a próxima década, a base de todos eles é a geração de energia, pois sem a segurança no abastecimento de energia não existe desenvolvimento, porém todos falam exclusivamente em fontes renováveis, solar, biomassa, eólica on-shore (na terra), near-shore (em lagoas) e off-shore (em alto mar) e hodrogênio verde. As cadeias produtivas das grades indústrias já estão priorizando fornecedores que possuam compromissos com a descarbonização, fontes renoveis e participação em acordos de emissão zero de CO². Os bancos internacionais e os grandes fundos mundiais não financiam mais um centavo se quer para projetos que possuam emissão significativa de gás carbônico na atmosfera, então por isso eu insito, ou a região começa a virar essa chave, ou ainda nesta década o desemprego vai bater na porta dos municípios que ainda insistem nessa pegada, ferozmente.
O projeto que autoriza investimento de recursos estaduais em rodovias federais no RS tem encontrado resistência na Assembleia e entre prefeitos gaúchos. Uma destas rodovias é a BR-290, que será concedida à iniciativa privada em 2023. Qual sua opinião sobre esse projeto e sua importância para a região e o Estado?
É burrice ideológica ou eleitoral de quem é contra esse projeto. Os recursos do Estado são exclusivos para investimentos, ou seja, não podem ser usados em custeio para projetos de outras rodovias estaduais, por exemplo, será feito via transferência de recursos para projetos já prontos pelo DNIT para ser executado, ou seja, está tudo pronto na ponta para executar as obras só falta o dinheiro, então não consigo entender o porquê de tanta resistência de algumas bancadas. O Orçamento de todo DNIT para o RS este ano é de R$ 500 milhões, o Estado está pronto para aportar mais estes outros R$ 500 milhões, ou seja, dobrar esse orçamento justamente para resolver os problemas e demandas das vidas do gaúchos, como tempo em engarrafamentos, gargalos, acidentes, mortes. Não faz sentido ver o que alguns deputados têm feito em cima desse assunto. E outra, depois desses investimentos, até mesmo o valor do pedágio deve baixar depois que a rodovia for concedida. Então me parece ilógica essa resistência, pois quem perde é o povo, e esse recurso se não alocado para isso, vai ficar parado sem uso no caixa do Estado.
Como o senhor avalia o atual cenário político gaúcho e as composições partidárias visando às eleições de outubro?
Tudo ainda muito no campo das negociações, os partidos ainda estão se “namorando” para organizar as composições e chapas que devem começar a ser formadas oficialmente no final de julho quando iniciam as convenções. Acredito muito que a base do governo precisa se manter unida em detrimento da continuidade do projeto iniciado pelo governador Sartori e dado continuidade pelos governadores Leite e Ranolfo, onde o Estado ajustou as contas públicas, reduziu impostos, pagou as dívidas e pode voltar a investir em obras, com responsabilidade fiscal e sem populismo barato. Este projeto que defendo e que acredito que a população gaúcha mereça para que não volte mais a sofrer após a herança maldita que governos populistas sempre fazem com as finanças do Estado.
Segundo as pesquisas, a disputa presidencial está polarizada entre Lula e Bolsonaro. Como o futuro secretário avalia as chances da chamada terceira via, que poderá ser liderada pela senadora Simone Tebet (MDB), quebrar essa polarização?
Simone é muito preparada. Quem a ouvir falar, tenho certeza que reprensará o seu voto, pois hoje a polarização se dá em troca de uma retroalimentação entre quem é anti-Lula e anti-Bolsonaro. Simone é uma candidata que contempla a população e um projeto de governo que trata sobre o futuro das próximas gerações do Brasil. Não é algo do tipo “voto em fulano para tirar cicrano”, “voto em A pra não deixar B ganhar”. Simone não é uma candidata personalista, é uma candidata de visão, para reequilibrar a democracia e acabar com os discursos de ódio e esse radicalismo que virou a política brasileira. Infelizmente devido a demora da decisão e composição da terceira via, não sei se dará tempo dela furar essa bolha, mas tenho certeza que seria uma excelente presidente para o nosso país.
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CONHEÇA O NOVO SECRETÁRIO
Joel Maraschin, 34 anos, é natural de Butiá, na Região Carbonífera. Jornalista e empreendedor, cursa atualmente bacharelado em Ciências e Tecnologia na UFRGS; e Gestão Pública na Unilasalle.
Aos 28 anos, foi eleito como o segundo vereador mais jovem da história de Butiá, onde se destacou pela autoria de leis que hoje são referência no município. Dentre elas, a que veda a nomeação de pessoas condenadas na Lei Maria da Penha em cargos de confiança; a que inclui pessoas com espectro autista no atendimento preferencial nos estabelecimentos públicos e privados; a que criou a Semana do Empreendedorismo, Negócios e Inovação; e a que isenta pessoas com câncer do pagamento do IPTU.
Em março de 2021, foi nomeado como secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico Adjunto e atuou junto da equipe que elaborou o programa Juro Zero do governo estadual.
Maraschin tem sido responsável também pela interlocução internacional do Governo com investidores e diplomatas, fazendo a promoção comercial do Estado e a atração de novos negócios para o futuro.
Atualmente é representante do Estado do Rio Grande do Sul na Assembleias Geral de sócios do Badesul, é conselheiro do Sebrae-RS, e membro do Colégio de Vogais da Junta Comercial e Industrial do Rio Grande do Sul.
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