A Polícia Civil de Canoas estimou que cerca de 240 cães e gatos teriam sido mortos por determinação da ex-secretária de Bem-Estar Animal, Paula Lopes (PL), que também liderava uma ONG de acolhimento de animais. A suspeita é que ela autorizava eutanásias ilegais e desviava recursos arrecadados para resgate e cuidados dos bichos, obtidos por meio de doações via Pix.

Nesta quinta-feira (4/9), a Operação Carrasco cumpriu seis mandados de busca e apreensão em propriedades da investigada e na sede da secretaria. Foram apreendidos documentos, computadores, registros de entrada e saída de animais, além de R$ 100 mil em um imóvel ligado à ex-secretária. Durante as diligências, os policiais localizaram cerca de 15 animais mortos dentro de um freezer, envoltos em sacos plásticos. Ao mesmo tempo, gatos vivos foram resgatados em condições precárias, mantidos em gaiolas apertadas e em situação de maus-tratos.

— Estimamos em cerca de 240 o número de animais mortos durante a gestão, muitos recolhidos das ruas ou doados por famílias para adoção. Esse cálculo é resultado de oito meses de investigações — afirmou o delegado regional Cristiano Reschke, destacando que o número ainda pode ser maior à medida que a análise de documentos e registros de microchips seja concluída.

De acordo com a delegada titular da 3ª DP de Canoas, Luciane Bertolletti, denúncias de ativistas da causa animal indicavam que mais de 20 bichos eram mortos semanalmente. O grupo entregou um dossiê com fotos e informações detalhadas sobre animais que desapareceram sem explicação, muitos dos quais haviam sido recolhidos das ruas ou entregues pelo órgão por famílias em situação de vulnerabilidade, com expectativa de adoção.

As investigações apontam ainda que uma caminhonete fazia periodicamente o transporte dos animais mortos, que eram descartados sem registro ou documentação oficial.

— Vamos cruzar os documentos apreendidos com relatos de servidores e registros de chips, buscando comprovar o número real de eutanásias realizadas. Também não descartamos fraude em laudos veterinários — disse a delegada Bertolletti.

A ex-secretária, exonerada do cargo em 18 de agosto, publicou um vídeo nas redes sociais afirmando estar “tranquila”. Ela classificou as denúncias como infundadas, atribuídas a reflexos da política e a disputas pessoais. “Está tudo bem, não se preocupem. Desde minhas primeiras semanas em Canoas, já precisei ir ao Ministério Público por causa de denúncias. As pessoas que perdem algo começam a fazer acusações sem fundamento. Estou tranquila”, disse.

A Prefeitura de Canoas se pronunciou afirmando que recebe as denúncias com indignação e reafirmou seu compromisso com o cuidado dos animais. A administração municipal informou que abriu um procedimento interno para apurar os fatos com rigor e que colabora integralmente com as investigações da Polícia Civil.

A Operação Carrasco envolveu a 3ª Delegacia de Canoas e o Instituto-Geral de Perícias (IGP), e os policiais recolheram materiais que podem auxiliar na apuração de possíveis desvios financeiros da ONG e na confirmação das mortes ilegais de animais. O caso segue sob investigação, e novas medidas podem ser adotadas conforme os resultados das análises periciais e documentais.