As exportações brasileiras para os Estados Unidos registraram queda de 18,5% em agosto, totalizando US$ 2,762 bilhões. O recuo coincide com o primeiro mês de vigência da tarifa de 50% aplicada pelo governo Donald Trump sobre produtos brasileiros, conforme dados divulgados nesta quinta-feira (4) pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).

Enquanto as vendas para os EUA recuaram, as exportações brasileiras para a China avançaram 29,9% em agosto, mostrando uma recuperação no maior mercado consumidor da América Latina. No acumulado de janeiro a agosto, entretanto, as vendas para o país asiático apresentaram queda de 3% em valor devido à redução de preços, embora o volume comercializado tenha aumentado 3%. O crescimento mensal reflete uma retomada na demanda chinesa por produtos como soja, minério de ferro e carnes.

O balanço geral da balança comercial brasileira também aponta superávit de US$ 6,133 bilhões em agosto, com exportações somando US$ 29,861 bilhões e importações de US$ 23,728 bilhões. A corrente de comércio do mês alcançou US$ 53,589 bilhões. No acumulado de janeiro a agosto, o saldo positivo chega a US$ 42,812 bilhões, com exportações de US$ 227,583 bilhões e importações de US$ 184,771 bilhões — ambos recordes históricos para o período.

O desempenho por setor mostrou crescimento de 8,3% na agropecuária e 11,3% na indústria extrativa em agosto, enquanto a indústria de transformação registrou queda de 0,9%. Entre os produtos mais afetados pela redução das vendas aos EUA estão minério de ferro, aeronaves e partes de aeronaves, açúcar e carne bovina fresca. A queda nas exportações de minério de ferro chegou a 100% para os Estados Unidos, devido à antecipação das vendas em julho, antes da imposição das tarifas americanas.

Segundo o diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior, Herlon Brandão, a retração nas exportações para os Estados Unidos se explica pela antecipação de negócios em julho, quando os exportadores se prepararam para o aumento de tarifas. “Isso gerou uma demanda antecipada, que fez com que as exportações de agosto recuassem. Ainda assim, observamos crescimento das exportações para outros mercados, principalmente China, México, Índia e Argentina”, afirmou.

O comércio exterior brasileiro também apresentou crescimento expressivo em outros destinos em agosto: aumento de 11% para o Reino Unido, 43,8% para o México, 40,4% para a Argentina e 58% para a Índia. Por outro lado, foram registradas quedas relevantes em exportações para Bélgica (-43,8%), Espanha (-31,3%), Coreia do Sul (-30,4%) e Singapura (-17,1%).

O resultado evidencia a vulnerabilidade do Brasil a medidas comerciais internacionais e a necessidade de diversificação de mercados e produtos para manter a competitividade. Analistas ressaltam que, apesar do impacto temporário das tarifas americanas, o crescimento nas vendas para a China e outros mercados consolida o desempenho positivo da balança comercial brasileira, mantendo o país com saldo robusto e corrente de comércio histórica para o período.

Além disso, os números refletem a importância de setores estratégicos como agropecuária, indústria extrativa e de transformação, mostrando que a economia brasileira ainda depende fortemente das exportações de commodities, enquanto busca ampliar o leque de produtos manufaturados e industrializados para o mercado externo.