‘Golpe já estava em curso’, diz Gonet sobre reunião de Bolsonaro com cúpula militar
Procurador-geral da República fez leitura da peça de acusação em que reafirmou que os réus articularam para efetivar uma ruptura democrática

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, abriu nesta terça-feira (2/09) a sustentação oral no julgamento dos réus acusados de articular um golpe de Estado após as eleições de 2022. A fala, iniciada por volta das 11h e encerrada ao meio-dia, apresentou os principais pontos da denúncia, reafirmando que o grupo liderado pelo então presidente Jair Bolsonaro trabalhou de forma sistemática para tentar uma ruptura democrática.
Segundo Gonet, a reunião de Bolsonaro com o ministro da Defesa e a cúpula militar, quando foi apresentada a chamada “minuta golpista”, é prova de que o processo já estava em andamento.
— Não é preciso esforço intelectual extraordinário para reconhecer que o processo criminoso já estava em curso — afirmou.
Defesa da democracia
O procurador destacou que a democracia brasileira reagiu a uma tentativa de golpe sustentada por violência e instabilidade. Ele ressaltou que o grupo conspirador não agiu de forma improvisada, mas deixou registros de quase todas as etapas do plano, incluindo previsões de prisão de autoridades e intervenção em tribunais superiores.
— A denúncia não se baseou em conjecturas frágeis. Os próprios integrantes da organização criminosa documentaram quase todas as fases da empreitada — disse Gonet.
Apesar disso, a tentativa fracassou porque não houve adesão dos comandantes do Exército e da Aeronáutica. Para o PGR, os ataques em Brasília em 8 de janeiro de 2023 foram resultado de uma mudança de estratégia:
— A instabilidade social passou a ser desejada como forma de legitimar medidas de exceção e arrastar as Forças Armadas para o golpe.
Papel de Bolsonaro e aliados
Gonet citou o depoimento do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, hoje delator, segundo o qual Bolsonaro estimulava deliberadamente a expectativa de uma intervenção militar.
— Ele sempre dava esperanças de que algo iria acontecer para convencer as Forças Armadas a concretizarem o golpe — relatou.
O procurador também frisou que os acusados não negam os fatos, mas tentam minimizar sua gravidade:
— Não podem ser tratados como devaneios utópicos ou aventuras irreverentes. São atos graves contra o Estado Democrático de Direito.
Crimes e possíveis penas
A Procuradoria-Geral da República pede a condenação do chamado “núcleo crucial”, que inclui Bolsonaro e ex-ministros militares, por cinco crimes:
- Organização criminosa armada;
- Golpe de Estado;
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
- Deterioração de patrimônio tombado;
- Dano qualificado contra patrimônio da União.
Caso sejam condenados, as penas podem chegar a 43 anos de prisão.
O julgamento
A Primeira Turma do STF é composta pelos ministros Cristiano Zanin (presidente), Alexandre de Moraes (relator), Flávio Dino, Luiz Fux e Cármen Lúcia.
As sustentações das defesas serão retomadas nesta tarde, a partir das 14h, começando pela de Mauro Cid. Cada advogado terá até uma hora para apresentar seus argumentos.
Além de Bolsonaro, respondem ao processo:
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil;
- Augusto Heleno, ex-ministro do GSI;
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência (delação premiada).
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