Após duas safras frustradas, olivicultura gaúcha projeta recuperação em 2026
Setor aposta em clima favorável, pesquisa e novas fronteiras agrícolas para superar quebra de produtividade e alcançar até 750 mil litros de azeite no próximo ciclo

O setor da olivicultura no Brasil atravessou dois anos difíceis, mas já vislumbra um horizonte mais otimista. O Rio Grande do Sul, responsável por cerca de 80% da produção nacional, colheu apenas 190,3 mil litros de azeite de oliva em 2025 — número praticamente idêntico ao de 2024 (193,1 mil litros) e muito distante do recorde de 580,2 mil litros registrados em 2023.
A quebra de safra foi causada, principalmente, pelo excesso de umidade no Sul do país. Ainda assim, especialistas e produtores acreditam que 2026 pode marcar uma retomada histórica. A projeção foi apresentada nesta segunda-feira (1º), durante a 48ª Expointer, em Esteio (RS), pelo presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Flávio Obino Filho.
Segundo ele, o inverno deste ano trouxe o frio mais intenso das últimas duas décadas, condição fundamental para o florescimento das oliveiras. Agora, a expectativa é de que o período de floração transcorra sem chuvas, permitindo uma boa polinização.
— Até agora deu tudo certo, mas tem muita coisa ainda para acontecer. Nossa meta é transformar a frustração das últimas safras em aprendizado — disse Obino.
Produção pode triplicar em 2026
De acordo com Paulo Lipp, coordenador do Programa Estadual de Desenvolvimento da Olivicultura, o Rio Grande do Sul sozinho pode atingir “tranquilamente” 750 mil litros de azeite de oliva no próximo ciclo, com possibilidade de superar essa marca.
O cálculo considera que o Estado já possui 5 mil hectares de oliveiras em produção — de um total de 6,5 mil hectares plantados. No Brasil, a área cultivada chega a 10 mil hectares, com destaque também para São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina e Paraná, que vêm se consolidando como novas fronteiras da olivicultura.
Desafios dentro e fora da lavoura
Além do clima, o setor enfrenta outro gargalo: a falta de investimentos em pesquisa. Obino lembra que, no início, a Embrapa foi parceira estratégica, mas hoje os próprios produtores têm bancado estudos de campo.
— Temos que entender melhor o comportamento das variedades aqui. Existem cultivares que, em países de origem, se adaptam à seca, mas que no Brasil, com três vezes mais chuva, crescem muito em folhas e troncos, mas não frutificam. Precisamos reunir dados, somar forças entre universidades e setor privado — afirmou.
A variedade Arbequina, de origem espanhola, segue como a mais adaptada às condições brasileiras. Ela é usada tanto para azeites varietais quanto em blends, graças ao sabor frutado e versatilidade.
Produtores também vêm testando novas técnicas, como coberturas com telas para reduzir umidade, podas diferenciadas e irrigação controlada. A Secretaria da Agricultura do RS iniciou ainda um monitoramento fenológico em diferentes regiões, comparando resultados de quatro cultivares.
Olivoturismo: oportunidade adormecida
Outro ponto em discussão é o potencial do chamado “olivoturismo”. Assim como o enoturismo alavancou a vitivinicultura, a visitação a olivais pode se tornar um diferencial econômico. Municípios como Sant’Ana do Livramento e Encruzilhada do Sul já começaram a investir em rotas ligadas ao setor, mas ainda esbarram em carências de infraestrutura.
— O olivoturismo está adormecido. Temos potencial para criar rotas que movimentem cidades inteiras, mas dependemos de estradas e investimentos públicos — destacou Lipp.
Próximos passos
Para discutir caminhos e fortalecer a troca de conhecimento, o Ibraoliva organiza, em dezembro, em Bagé, o Seminário Binacional e o 6º Encontro Estadual de Olivicultura, com a presença de técnicos e produtores brasileiros e uruguaios.
Com pouco mais de 20 anos de atividade em escala comercial no Brasil, a olivicultura já reúne cerca de 550 produtores, distribuídos em mais de 200 municípios, com 70 lagares em operação — 29 deles no RS. Encruzilhada do Sul concentra a maior área plantada, com mais de mil hectares.
O desafio, agora, é transformar essa base em volume e qualidade, para que o país deixe de ser apenas um mercado promissor e se torne também referência internacional na produção de azeite de oliva.
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