Bolsonaro promete silêncio e pede que STF esclareça limites de medidas cautelares impostas por Moraes
Ex-presidente afirma respeitar decisão do Supremo, nega ter descumprido restrições e questiona se está proibido até de conceder entrevistas

Após ser advertido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre possível descumprimento das medidas cautelares que lhe foram impostas, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu nesta terça-feira (22/07) que não fará novas manifestações públicas até que o Supremo esclareça o alcance das restrições, especialmente em relação à concessão de entrevistas e repercussão de suas falas nas redes sociais.
A defesa de Bolsonaro apresentou embargos de declaração, um instrumento jurídico usado para solicitar esclarecimentos sobre decisões judiciais. No documento, os advogados afirmam que o ex-presidente não descumpriu a decisão e que “jamais teve a intenção de fazê-lo”. Alegam ainda que Bolsonaro está cumprindo todas as determinações impostas, como o uso de tornozeleira eletrônica, o recolhimento noturno e nos fins de semana, e a proibição de uso das redes sociais.
O pedido de explicações ocorre após Moraes afirmar, em novo despacho, que a proibição de uso das redes sociais inclui também a transmissão ou veiculação de entrevistas em plataformas de terceiros — o que, na visão do ministro, teria sido violado por Bolsonaro ao conceder entrevista e exibir a tornozeleira eletrônica durante visita à Câmara dos Deputados na segunda-feira (21/07). Imagens do momento foram amplamente compartilhadas nas redes.
A defesa, por outro lado, sustenta que Bolsonaro não tem controle sobre a reprodução de suas declarações por terceiros e que a decisão original não deixava claro se ele estava proibido de conceder entrevistas. “Afinal, se a proibição envolve transmissão ou transcrição de entrevistas, o embargante, na prática, está proibido de concedê-las, posto que ninguém tem controle sobre a forma de sua divulgação”, argumentaram os advogados.
"O embargante não postou, não acessou suas redes sociais e nem pediu que terceiros o fizessem", diz a defesa, que também destacou que Bolsonaro está agindo “com absoluto respeito” às determinações da Corte.
Moraes vê risco de prisão
O alerta de Moraes foi emitido na noite de segunda-feira, com prazo de 24 horas para resposta. No despacho, o ministro afirma que Bolsonaro teria utilizado de maneira indireta a mídia e as redes sociais para se manifestar, o que poderia representar uma tentativa de burlar a decisão judicial. O magistrado reforçou que o descumprimento das medidas pode resultar em prisão preventiva, com base no artigo 312 do Código de Processo Penal.
Moraes acrescentou à decisão original que a proibição se estende a qualquer forma de publicação nas redes sociais, “inclusive transmissões, retransmissões ou veiculação de áudios, vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer das plataformas”.
Além de limitar a atuação pública de Bolsonaro, as medidas também proíbem que ele tenha contato com outros investigados, inclusive o filho, Eduardo Bolsonaro, e que mantenha qualquer tipo de comunicação com embaixadores ou diplomatas.
Durante a visita à Câmara, Bolsonaro chamou o uso da tornozeleira de “máxima humilhação” e, em declarações anteriores, se queixou das restrições.
— Tenho 70 anos, fui presidente da República. Isso é uma suprema humilhação — disse.
Investigação e acusações
As medidas cautelares foram impostas no âmbito de investigações que apuram a tentativa de subversão da ordem democrática e ataques à soberania nacional. Em documento tornado público, Moraes afirma que Bolsonaro teria confessado atuar conscientemente para pressionar a Justiça brasileira, ao condicionar o fim de sanções internacionais à sua própria anistia — algo que o ministro classificou como tentativa de extorsão institucional.
Agora, caberá ao STF responder se a restrição imposta ao ex-presidente inclui, de forma explícita, a proibição de conceder entrevistas à imprensa, mesmo sem compartilhamento por ele ou sua equipe nas redes sociais. Até que isso seja esclarecido, Bolsonaro, segundo sua defesa, permanecerá em silêncio.
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