Crise entre Brasil e EUA se intensifica com investigação formal e reação de empresários norte-americanos
Trump aciona mecanismo de retaliação após impor tarifa de 50%; setor produtivo dos dois países pressiona por solução negociada

A crise comercial entre Brasil e Estados Unidos se aprofundou nos últimos dias, após o governo norte-americano abrir uma investigação formal contra o Brasil com base na Seção 301 da legislação comercial dos EUA, que permite retaliações contra práticas consideradas desleais. A medida foi acompanhada da anúncio de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, que deverá entrar em vigor no dia 1º de agosto.
A investigação foi iniciada pelo representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, sob orientação do presidente Donald Trump, que relacionou diretamente a decisão ao que chama de “perseguição política” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo Greer, o foco da apuração são práticas comerciais do Brasil nas áreas de comércio digital, pagamentos eletrônicos, desmatamento ilegal, propriedade intelectual, tratamento a empresas americanas e tarifas preferenciais.
Além de mencionar "ataques do Brasil às empresas de rede social americanas", a nota do governo dos EUA acusa o país de discriminar empresas estrangeiras e impor barreiras ao acesso ao mercado de etanol, além de interferir em ações anticorrupção.
Empresários americanos e brasileiros reagem à medida
Apesar do tom agressivo do governo Trump, o chamado “tarifaço” de 50% enfrentou repercussão negativa dentro dos próprios Estados Unidos. Entidades empresariais influentes, como a U.S. Chamber of Commerce e a Amcham Brasil, publicaram uma nota conjunta nesta terça-feira (15/07) pedindo que os dois países iniciem negociações de alto nível para evitar a aplicação da tarifa.
Segundo a manifestação, a medida afetaria produtos essenciais para cadeias produtivas americanas, aumentando os custos para famílias e prejudicando a competitividade da economia dos EUA. As entidades também alertaram que 6,5 mil pequenas empresas norte-americanas dependem diretamente de insumos importados do Brasil.
Durante reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin, representantes de setores exportadores brasileiros, como café, carne e suco de laranja, reforçaram que a medida seria inflacionária para os consumidores dos EUA. Segundo Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, o Brasil é responsável por cerca de um terço do café consumido nos EUA, produto que não concorre diretamente com o agro norte-americano. Já o setor de carnes destacou que o Brasil exporta principalmente cortes usados pela indústria americana para produção de hambúrgueres — itens pouco consumidos internamente.
— Nós temos uma complementariedade econômica muito clara com os EUA. Essa tarifa prejudica não só o Brasil, mas também a população americana — afirmou Alckmin após o encontro.
Governo brasileiro aposta em pressão empresarial
O governo Lula avalia que o melhor caminho neste momento é buscar uma solução negociada, sem descartar a possibilidade de retaliação. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou "contundente" a manifestação das entidades norte-americanas e vê apoio empresarial nos EUA como estratégico para reverter a decisão.
— O objetivo do governo é resolver isso até o dia 31 de julho. Não há, neste momento, intenção de pedir prorrogação do prazo — afirmou Alckmin.
Especialistas alertam que, se a medida for implementada, o impacto poderá ser significativo tanto para a economia brasileira quanto para as cadeias produtivas norte-americanas. A Seção 301 foi o mesmo instrumento utilizado por Trump para iniciar a guerra comercial com a China em 2018, cujas tarifas seguem em vigor até hoje.
Nos bastidores, há também preocupação com o uso político da relação bilateral. Trump tem se aproximado de Bolsonaro e de seus aliados, e o conflito comercial com o Brasil tem sido usado como palco para críticas ao atual governo brasileiro e apoio ao ex-presidente. Parlamentares brasileiros e líderes empresariais consideram essa politização do comércio internacional como perigosa e danosa para ambos os lados.
A expectativa agora recai sobre os próximos dias, que serão decisivos para tentar evitar o agravamento da crise. Negociações diplomáticas e a mobilização do setor produtivo devem marcar a reta final antes do prazo-limite de 1º de agosto.
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