Governo manifesta indignação com tarifaço e reitera disposição para negociar com os EUA
Carta assinada por Alckmin e Mauro Vieira critica sobretaxa imposta por Trump e propõe solução comercial conjunta

O governo brasileiro enviou uma nova carta aos Estados
Unidos expressando indignação com a sobretaxa de 50% imposta pelo presidente
Donald Trump sobre as exportações brasileiras, válida a partir de 1º de agosto.
O documento (leia mais abaixo), datado desta terça-feira (15/07), é assinado
pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e pelo
ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
É a segunda manifestação oficial do Brasil ao governo
norte-americano desde que o tarifaço foi anunciado, e reitera o pedido por uma
resposta à primeira carta enviada em 16 de maio, antes mesmo da confirmação da
medida protecionista por parte dos EUA.
Endereçado ao secretário de Comércio dos Estados Unidos,
Howard Lutnick, e ao representante comercial Jamieson Greer, o texto critica
duramente a decisão de Trump e destaca o impacto negativo que a medida terá
sobre o comércio bilateral.
“O governo brasileiro manifesta sua indignação com o
anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50%
sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos”, aponta
a carta.
Apesar da crítica, o Brasil mantém a porta aberta para o
diálogo, reforçando o interesse em encontrar uma solução mutuamente aceitável.
“O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades
americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos
comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o
relacionamento histórico entre os dois países”, destacam os ministros.
Histórico de negociações e déficit comercial
No documento, o governo Lula lembra que o Brasil tem
dialogado de boa-fé com os EUA desde antes da adoção de medidas tarifárias,
buscando alternativas para melhorar a relação comercial entre os países.
O texto cita um déficit acumulado de quase US$ 410 bilhões
nos últimos 15 anos, somando o comércio de bens e serviços. Segundo o governo
brasileiro, esse desequilíbrio reforça a necessidade de ajustes negociados e de
mais reciprocidade.
Ainda em maio, o Brasil enviou aos EUA uma minuta
confidencial com sugestões de áreas prioritárias para discussão, mas, segundo o
governo, nenhuma resposta oficial foi dada até agora.
Reuniões com o setor produtivo
Nesta quarta-feira (16/07), Alckmin deu continuidade a uma
série de reuniões com representantes da indústria, agronegócio e centrais
sindicais para avaliar os impactos da medida e discutir estratégias de reação.
Estiveram presentes também o ministro da Secretaria-Geral,
Márcio Macêdo, membros da Confederação Nacional da Indústria (CNI),
representantes do Itamaraty e de associações empresariais. No dia anterior,
participaram da primeira rodada de encontros os ministros Fernando Haddad
(Fazenda), Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), Simone Tebet
(Planejamento) e Rui Costa (Casa Civil).
Durante os encontros, a indústria brasileira manifestou
preocupação com retaliações que possam escalar o conflito, defendendo um
caminho diplomático. Alckmin concordou e pediu ajuda do setor produtivo para
dialogar com empresas americanas afetadas pela tarifa, a fim de fortalecer a
pressão interna nos EUA contra a medida.
Leia na íntegra
"No contexto do anúncio por parte do Governo
norte-americano da imposição de tarifas contra exportações de produtos
brasileiros para os EUA, o Vice-Presidente e Ministro do Desenvolvimento,
Geraldo Alckmin, e o Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, enviaram
ontem, dia 15 de julho, carta ao Secretário de Comercio dos EUA Howard Lutnick
e ao Representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, nos seguintes termos:
1. O Governo brasileiro manifesta sua indignação com o
anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50%
sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir
de 1° de agosto. A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores
importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica
historicamente forte e profunda entre nossos países. Nos dois séculos de
relacionamento bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos, o comércio provou
ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as
duas maiores economias das Américas.
2 . Desde antes do anúncio das tarifas recíprocas em 2 de
abril de 2025, e de maneira contínua desde então, o Brasil tem dialogado de
boa-fé com as autoridades norte-americanas em busca de alternativas para
aprimorar o comércio bilateral, apesar de o Brasil acumular com os Estados
Unidos grandes déficits comerciais tanto em bens quanto em serviços, que
montam, nos últimos 15 anos, a quase US$ 410 bilhões, segundo dados do governo
dos Estados Unidos. Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou,
em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de
preocupação para o governo norte-americano.
3. Com esse mesmo espírito, o Governo brasileiro apresentou,
em 16 de maio de 2025, minuta confidencial de proposta contendo áreas de
negociação nas quais poderíamos explorar mais a fundo soluções mutuamente
acordadas.
4. O Governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos EUA à
sua proposta.
5. Com base nessas considerações e à luz da urgência do
tema, o Governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do
governo dos EUA sobre a proposta brasileira. O Brasil permanece pronto para
dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente
aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de
preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e
mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio
bilateral."
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