Bolsonaro diz não ter culpa por tarifaço e ignora pressão de filho e carta de Trump
Ex-presidente culpa Lula e pede passaporte para negociar com Trump, apesar de ser citado em documento oficial dos EUA

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) isentou-se de responsabilidade sobre a decisão do governo de Donald Trump de aplicar uma sobretaxa de 50% às exportações brasileiras. Em pronunciamento nesta quarta-feira (17), ele criticou o governo Lula (PT) e elogiou a eleição de Trump, minimizando o impacto do tarifaço sobre o Brasil.
— Graças a Deus o Trump foi eleito, podemos sonhar aqui no Brasil em restabelecer nossa democracia. Eduardo está lutando lá para restabelecer nossa liberdade, não temos mais liberdade.
Apesar de ter sido citado na carta oficial do governo americano que anunciou a medida, Bolsonaro alegou que não possui influência direta sobre Trump.
— Não tenho essa liberdade toda com o Trump. Mas, se me devolverem o passaporte, eu vou negociar nos Estados Unidos.
O ex-presidente ainda tentou relativizar a decisão dos EUA, afirmando que a medida não atinge apenas o Brasil.
— Não é com o Brasil, é com o mundo.
A declaração ignora o fato de que as alíquotas impostas ao Brasil foram superiores às aplicadas a outros países.
A pressão da ala bolsonarista, especialmente de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está desde março nos EUA, também foi desconsiderada pelo ex-presidente. Eduardo atua no país tentando convencer o governo Trump a reagir contra o STF, em meio às investigações sobre tentativa de golpe de Estado.
Segundo Jair Bolsonaro, seu filho deve continuar fora do Brasil, mesmo com o fim do prazo de afastamento parlamentar neste domingo (20/07).
— Pelo que eu sei, ele não vem para cá. Ele vai ser preso no aeroporto. Ele está conversando, está no Capitólio, está com pessoas próximas ao Trump.
Na carta enviada pelo governo Trump, o próprio ex-presidente brasileiro foi citado como vítima de perseguição política. Ainda assim, Bolsonaro negou que a aprovação de uma anistia aos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro, o que poderia beneficiá-lo, fosse suficiente para reverter o tarifaço.
Bolsonaro respondeu a perguntas da imprensa no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), onde permaneceu por cerca de 40 minutos. Disse que hoje não tem condições de negociar, mas acredita que poderia ter êxito se encontrasse Trump.
— Eu acho que teria sucesso tendo uma audiência com o presidente Trump. Acho que teria sucesso. Estou à disposição
Em meio às tensões com os EUA, Bolsonaro também saiu em defesa do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vem sendo criticado por Eduardo Bolsonaro.
— Tarcísio está fazendo a parte dele, parabéns para o Tarcísio. Ele está buscando o apoio de exportadores, de empresários, é uma voz importante. O estado de São Paulo tem quase 40% do PIB
No entanto, disse não acreditar que a atuação de Tarcísio resolva o impasse com os EUA.
— Mas ele não vai, o Trump, no meu entender, resolver a questão de exportadores de São Paulo. É o Brasil como um todo. O Tarcísio faz mais do que, nem sei o nome, o cara do Itamaraty. É tão insignificante que nem sei o nome dele.
A fala foi uma referência indireta ao chanceler Mauro Vieira. A crise com os Estados Unidos se intensifica em meio ao isolamento político de Bolsonaro, que tenta mostrar força enquanto enfrenta investigações por tentativa de golpe e pressões crescentes de sua base aliada.
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