Governo do RS e setor produtivo pressionam por revisão de tarifas dos EUA
Com perdas de até R$ 1,92 bilhão no PIB gaúcho, indústria pressiona por medidas emergenciais, enquanto governo Leite propõe suspensão de contratos, isenções e crédito para empresas afetadas

Diante da iminente entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, o governo do Rio Grande do Sul e o setor industrial intensificaram as articulações para evitar um colapso na economia local. Em reuniões realizadas nesta sexta-feira (18), lideradas pelo governador Eduardo Leite no Palácio Piratini, empresários, entidades do setor produtivo e o cônsul-geral dos EUA em Porto Alegre, Jason Green, discutiram os impactos da medida e estratégias para sua contenção.
O Rio Grande do Sul é apontado como o segundo estado brasileiro mais atingido, com potencial perda de até R$ 1,92 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB), segundo a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). A Confederação Nacional da Indústria (CNI) projeta a perda de 110 mil empregos em nível nacional — número que, segundo a Fiergs, pode ser ainda maior.
Setores como calçados, armas, móveis, celulose e pescados já sentem os efeitos, mesmo antes da vigência oficial das tarifas, prevista para 1º de agosto. Empresas enfrentam cancelamentos de encomendas, suspensão de contratos e retração nas compras. “Temos empresas que exportam até 95% da produção para os EUA. Elas estão em estado de alerta, paralisadas, sem saber o que vai acontecer”, relatou Claudio Bier, presidente da Fiergs. “Esses empresários não dormem.”
Propostas para mitigar os efeitos
Diante desse cenário, o governo estadual defende não apenas a revisão ou prorrogação das tarifas, mas também a adoção de políticas públicas para mitigar os impactos. Entre as medidas em debate estão:
- Redução de impostos para setores afetados;
- Criação de linhas especiais de crédito;
- Suspensão ou flexibilização de contratos de trabalho, nos moldes das políticas adotadas durante a pandemia;
- Apoio diplomático ativo junto ao governo federal e à Embaixada dos EUA.
“Precisamos estar prontos para atuar em todas as frentes. Se não houver revisão das tarifas, ou ao menos adiamento de sua vigência, o governo brasileiro terá que adotar medidas emergenciais. Buscar novos mercados não é algo que se faz da noite para o dia”, afirmou o governador Eduardo Leite.
Evitar a politização da crise
Leite também fez um apelo por moderação no discurso político. Com as tarifas sendo interpretadas como uma resposta do governo Donald Trump à instabilidade política no Brasil e à operação que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador alertou para o risco de contaminação política nas negociações internacionais.
“Não podemos explorar politicamente esse momento. A resposta do Brasil deve ser técnica, responsável e focada no interesse nacional. A prioridade é proteger empregos e preservar nossas relações comerciais”, declarou.
Setores mais expostos
Segundo o economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio, os principais impactos serão sentidos na geração de empregos, na balança comercial e no desempenho do PIB. “Somos um estado com vocação exportadora. Segmentos como couro e calçados, móveis, armas e celulose serão duramente atingidos. Alguns dos nossos produtos, como os pescados, podem ser rapidamente substituídos por concorrentes de outros países, o que agrava a situação.”
O mercado norte-americano responde por 11,2% das exportações da indústria de transformação gaúcha. Só em 2024, foram US$ 1,8 bilhão em embarques para os EUA, dos quais 45,8% dos produtos de metal. O Rio Grande do Sul abriga cerca de 1,1 mil empresas exportadoras para os Estados Unidos — 10% do total nacional.
Ofensiva nacional
Uma correspondência com os principais pontos discutidos será entregue ao vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, na próxima semana. A expectativa é que a articulação estadual fortaleça a posição do Brasil nas tratativas com os EUA.
“O que está em jogo não é um governo ou partido, mas o futuro de milhares de empresas, empregos e famílias. Temos que manter a responsabilidade e o foco na solução”, concluiu Leite.
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