Conab anuncia compra de até 110 mil toneladas de arroz para conter queda nos preços e proteger produtores
Com aporte de R$ 150 milhões, governo federal lança nova rodada de contratos de opção de venda; setor cobra fiscalização e novos mercados

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou, nesta terça-feira (15/07), a abertura de uma nova rodada de contratos de opção de venda (COV) para aquisição de até 110 mil toneladas de arroz da safra atual. A medida busca reagir à forte queda nos preços do cereal no mercado interno, que registrou desvalorização de 41,3% em julho, segundo o indicador Cepea/Irga.
Para viabilizar a operação, serão destinados R$ 150 milhões, realocados de recursos originalmente previstos para as Aquisições do Governo Federal (AGF). Os contratos oferecidos preveem preços superiores aos praticados atualmente: R$ 73 por saca de 50kg para entrega em agosto, R$ 73,48 em setembro e R$ 73,95 em outubro, enquanto a média de mercado gira em torno de R$ 65,56.
O presidente da Conab, Edegar Pretto, destacou que a medida é uma resposta emergencial à desvalorização do produto e oferece ao produtor uma alternativa de comercialização. “Se os preços subirem até a data da entrega, o produtor poderá optar por vender no mercado. Caso contrário, terá a garantia do preço mínimo assegurado pelo contrato com a Conab”, explicou.
Produtores relatam dificuldade e pedem ações estruturais
O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do RS (Federarroz), Denis Nunes, reconheceu a importância da iniciativa, mas demonstrou desconforto com a necessidade de intervenção governamental. Segundo ele, os produtores têm enfrentado instabilidade e perda de competitividade no mercado, inclusive dentro do Mercosul.
Nunes apontou problemas como fraudes na tipificação do arroz, excesso de tributos e falta de fiscalização efetiva, que dificultam a competição justa. Ele defendeu a ampliação de mercados e recomendou aos produtores a redução da área plantada diante da conjuntura desfavorável.
Indústria também se mostra preocupada com instabilidade
A diretora-executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Andressa Silva, alertou para os riscos que a volatilidade de preços representa para toda a cadeia produtiva. Segundo ela, preços muito baixos ou muito altos afetam tanto a produção quanto o consumo, criando desequilíbrios e perda de referência de valor para o consumidor.
Andressa destacou que o Brasil é autossuficiente na produção de arroz, o que reforça a necessidade de um esforço coletivo — incluindo o governo — para preservar a viabilidade econômica da cultura. “Segurança alimentar exige estabilidade e previsibilidade na cadeia do arroz”, disse.
Histórico e próximos passos
Em 2024, o governo federal já havia autorizado a compra de 500 mil toneladas do grão por meio do mesmo mecanismo. No entanto, diante da valorização do arroz naquele período, o interesse dos produtores foi baixo e apenas 91 mil toneladas foram efetivamente negociadas, com investimento de R$ 120 milhões.
A nova rodada, por sua vez, ocorre em um cenário oposto, com os preços em queda acentuada. A Conab informou ainda que já está em planejamento a oferta de COVs para a safra 2025/2026, que deve ultrapassar 12 milhões de toneladas, segundo projeções da companhia.
O setor agora espera que, além do apoio emergencial, o governo avance em ações estruturantes, como fiscalização mais rigorosa, abertura de novos mercados e revisão tributária, para garantir o equilíbrio da cadeia do arroz e evitar futuras crises.
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