Governo Trump faz nova ameaça ao Brasil e diz acompanhar 'de perto' situação de Bolsonaro
Subsecretário dos EUA afirma que sobretaxa é resposta a ações de Lula e Moraes contra Bolsonaro; governo brasileiro articula reação

O governo dos Estados Unidos voltou a aumentar a pressão sobre o Brasil nesta segunda-feira (14/07), ao afirmar que a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente Donald Trump tem motivação política. O subsecretário de Diplomacia Pública, Darren Beattie, publicou em uma conta oficial no X (antigo Twitter) que a medida é uma “consequência há muito esperada” pelas supostas ações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A publicação ocorre no mesmo dia em que a Procuradoria-Geral da República apresentou as alegações finais no processo que tem Bolsonaro como réu por tentativa de golpe de Estado, em tramitação no STF. A ação penal se aproxima da fase de julgamento.
Beattie acusou o governo brasileiro de atentar contra a liberdade de expressão e classificou como “vergonhosos” os processos contra Bolsonaro, afirmando que os Estados Unidos “acompanharão de perto” os desdobramentos no Brasil. O comunicado foi replicado pela página oficial da embaixada dos EUA no Brasil, ampliando a repercussão diplomática da declaração.
Na semana passada, Trump já havia anunciado a nova tarifa, que passa a valer em 1º de agosto. A justificativa apresentada incluiu alegações falsas sobre o comércio entre os países e supostos déficits com o Brasil. Segundo dados oficiais, os Estados Unidos exportam mais do que importam para o Brasil desde 2009. Apesar disso, o texto enviado por Trump ao governo brasileiro mistura argumentos comerciais e acusações de perseguição política, mencionando diretamente o julgamento de Bolsonaro, classificado como “caça às bruxas”.
Diante da escalada de tensão, o governo brasileiro iniciou articulações para responder ao tarifaço. O presidente Lula assinou um decreto regulamentando a Lei de Reciprocidade, mecanismo legal que permite retaliações comerciais. Além disso, foi montado um comitê interministerial, liderado pelo vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, para avaliar medidas de resposta.
Entidades da indústria e da agropecuária brasileiras reagiram com preocupação à nova tarifa. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que a medida ameaça empregos e não encontra respaldo econômico. Setores ligados ao agronegócio também alertam para perdas significativas com o bloqueio ao mercado norte-americano.
Enquanto isso, o contexto político se intensifica com o envolvimento de nomes ligados à direita brasileira na crise. O blogueiro Paulo Figueiredo, próximo da família Bolsonaro, criticou tentativas de negociação lideradas pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que busca alternativas para reverter ou adiar o impacto das tarifas. Segundo Figueiredo, tais esforços atrapalhariam possíveis acordos para obter anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
Nos bastidores diplomáticos, a medida é vista como um endurecimento da retórica trumpista em ano eleitoral, com o ex-presidente dos EUA usando a política externa para reforçar sua base conservadora e defender aliados ideológicos no exterior. Já o STF, por meio de seu presidente, ministro Luís Roberto Barroso, defendeu a autonomia do Judiciário brasileiro e classificou como inaceitáveis as interferências externas.
As próximas semanas serão decisivas tanto na frente diplomática quanto na judicial, com possíveis consequências para as relações comerciais entre os dois países.
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