‘Não aceito que o Trump venha meter o bedelho em um caso interno’, diz Mourão
Declaração do senador evidencia o crescente isolamento político da família Bolsonaro, mesmo entre aliados da direita

O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) criticou nesta terça-feira (15) a tentativa de interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A declaração, feita durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado, reforça o isolamento político crescente da família Bolsonaro, mesmo entre antigos aliados ideológicos.
Mourão, que foi vice-presidente de Bolsonaro, reconheceu que há injustiça no tratamento judicial contra o ex-mandatário, mas defendeu que o caso deve ser tratado exclusivamente pelos brasileiros, sem envolvimento estrangeiro. A crítica direta a Trump amplia o distanciamento entre o clã Bolsonaro e figuras relevantes da direita institucional, num momento em que Jair, Flávio e Eduardo Bolsonaro enfrentam pressão interna e internacional.
A fala ocorre em meio à repercussão do tarifaço anunciado por Trump, que prevê sobretaxa de até 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto. Na justificativa, o presidente norte-americano citou diretamente o processo judicial contra Bolsonaro e atacou decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Inicialmente, aliados bolsonaristas aplaudiram a medida, mas, diante das consequências econômicas, governadores de direita e parlamentares recuaram, buscando agora saídas diplomáticas.
Nos últimos dias, Bolsonaro e seus filhos passaram a defender uma anistia ampla aprovada pelo Congresso como forma de evitar a aplicação das tarifas. A proposta tem encontrado resistência até mesmo entre setores conservadores, refletindo o desgaste político do ex-presidente.
Durante a audiência, Mourão ainda criticou a mudança de postura dos EUA, que, segundo ele, trocaram o "poder suave" da diplomacia pelo uso direto do poder econômico como forma de pressão. Ao mesmo tempo, o senador voltou a questionar a condução do processo judicial contra Bolsonaro, mas reforçou que a crise deve ser enfrentada internamente, sem tutelas externas ou salvadores estrangeiros.
A manifestação ocorre um dia após a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentar as alegações finais da Ação Penal 2.668, na qual pede a condenação de Bolsonaro e de outros sete integrantes do núcleo central da tentativa de golpe de Estado. O documento reforça as evidências de que o ex-presidente liderou articulações para romper a ordem democrática após ser derrotado nas eleições de 2022.
Com o avanço do processo judicial, a pressão diplomática e a perda de apoio entre aliados históricos, a família Bolsonaro se vê cada vez mais isolada no cenário político nacional, enfrentando não apenas investigações, mas também o esvaziamento de sua base de sustentação.
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