Indústria pede adiamento de 90 dias do tarifaço dos EUA; governo busca solução diplomática
Empresários e governo federal articulam resposta à taxação de Trump que pode causar perda de 110 mil empregos no Brasil

Diante da iminente entrada em vigor das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, prevista para 1º de agosto, o setor industrial brasileiro se mobilizou em uma reunião de emergência nesta segunda-feira (14). Convocados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), presidentes das federações industriais de todo o país defenderam um adiamento mínimo de 90 dias na medida anunciada pelo governo norte-americano.
A elevação tarifária, de até 50%, foi anunciada pelo presidente Donald Trump como retaliação a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e à forma como o ex-presidente Jair Bolsonaro vem sendo tratado no Brasil. A reação do setor produtivo foi imediata. Segundo estimativa preliminar apresentada pela CNI, os impactos da medida podem resultar na perda de ao menos 110 mil postos de trabalho, além de prejuízos ainda não calculados ao Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
A CNI afirmou, em nota, que o prazo solicitado é essencial para que a indústria brasileira possa avaliar melhor os efeitos da taxação e buscar alternativas diplomáticas. O setor também pediu que o governo federal conduza as negociações com “prudência, equilíbrio e diálogo técnico”, preservando os canais institucionais entre os dois países.
A secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, participou do encontro virtual e afirmou que as preocupações do setor serão levadas ao governo.
Governo articula com empresários e cria comitê
Paralelamente, o governo federal intensificou as ações para tentar reverter a decisão de Trump. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, liderou reuniões com representantes da indústria e do agronegócio nesta terça-feira (15). Durante o encontro, Alckmin classificou a medida norte-americana como “inadequada” e reforçou o compromisso do Brasil em buscar uma solução negociada.
Alckmin também destacou que o governo brasileiro já havia enviado, em maio, uma proposta de entendimento aos Estados Unidos, que até agora não foi respondida. O vice-presidente ressaltou que a relação comercial entre os dois países é baseada na reciprocidade e que a taxação também prejudicará empresas norte-americanas que dependem do mercado brasileiro.
Para coordenar a resposta, foi criado o Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, que reúne os ministérios do Desenvolvimento, da Fazenda, das Relações Exteriores e da Casa Civil. A regulamentação da chamada Lei de Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso, também foi publicada nesta terça-feira e deverá orientar as medidas de retaliação do Brasil, caso o tarifaço se confirme.
O governo também estuda dialogar diretamente com empresas norte-americanas que mantêm relações comerciais com o Brasil, na tentativa de pressionar a administração Trump a rever a decisão.
Setores mais afetados
A elevação tarifária deve impactar principalmente os setores de aço, alimentos industrializados, calçados e produtos químicos — todos com forte presença nas exportações brasileiras aos EUA. Estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná devem sentir os maiores efeitos econômicos.
A expectativa do governo e dos empresários é de que, com a pressão coordenada e o reforço do diálogo diplomático, seja possível adiar a aplicação das tarifas ou ao menos reduzir o impacto imediato sobre a economia nacional.
COMENTÁRIOS