Estiagem deve continuar mesmo após o fim do La Niña, alertam meteorologistas
Durante o verão, 310 municípios gaúchos decretaram situação de emergência devido à escassez de água

Apesar do encerramento do fenômeno climático La Niña, que teve papel determinante no verão mais quente e seco registrado recentemente no Rio Grande do Sul, a estiagem deve persistir nos próximos meses. A previsão é de que a chuva continue abaixo da média, o que pode não ser suficiente para reverter os impactos já causados pela seca prolongada.
O La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do oceano Pacífico e alterações nos padrões de ventos atmosféricos, esteve diretamente ligado à redução das chuvas na região sul do Brasil. Com o fim do fenômeno, espera-se uma fase de neutralidade climática, ou seja, sem influência direta do Pacífico nas condições do tempo. Mesmo assim, outros fatores globais continuam afetando o clima local.
A nova configuração climática pode trazer chuvas e temperaturas mais próximas das médias históricas para a época do ano, mas isso não garante o retorno à normalidade. A previsão indica que a precipitação seguirá irregular e concentrada em alguns momentos, intercalada com longos períodos de seca.
Outros elementos climáticos, como a temperatura das águas do Atlântico Subtropical e a extensão das áreas cobertas por gelo na Antártica, também têm influência importante e estão contribuindo para um cenário de outono mais seco. Além disso, o aquecimento acima do normal da superfície continental tem dificultado o avanço de frentes frias, principais responsáveis pela chuva na região.
Apesar da possível diminuição da intensidade da estiagem com a chegada de temperaturas mais amenas no outono e inverno — o que favorece maior permanência da umidade no solo e menor evaporação —, o volume de chuva previsto para os próximos três meses pode não ser suficiente para reabastecer os reservatórios nem atender à demanda de áreas já severamente afetadas.
Durante o verão, 310 municípios gaúchos decretaram situação de emergência devido à escassez de água. As regiões Central e Oeste foram as mais prejudicadas, com acumulados muito abaixo da média, e, com a previsão de manutenção desse cenário, a recuperação hídrica será limitada, o que pode comprometer inclusive o preparo das culturas de verão.
Não há, até o momento, expectativa de um novo episódio de La Niña ou de El Niño até pelo menos o início da primavera. Os modelos meteorológicos apontam para a continuidade do estado de neutralidade climática durante o outono e inverno. No entanto, é importante lembrar que essas previsões estão sujeitas a mudanças, e novos dados podem alterar o cenário.
Caso os reservatórios não sejam adequadamente reabastecidos nos próximos meses e um novo La Niña venha a se formar mais adiante, o quadro de estiagem poderá se agravar novamente. Por isso, especialistas recomendam ações de planejamento, como a construção de reservatórios, estratégias de irrigação e planos de contingência para enfrentar eventuais novos períodos de seca prolongada.
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