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São Jerônimo, RS,14/07/2025

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Carnaval da Resistência, um tapa de luvas

O que mais me chamou atenção foi ter presenciado um povo educado, que jogou lixo nas lixeiras a noite toda

Carla Miller Trainini
Carnaval da Resistência, um tapa de luvas Durante algumas horas eu presenciei o brilho no olhar de quem brigou pela Festa de Momo
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Carla Miller Trainini



A vida inteira eu disse que jamais teria paciência de assistir aos desfiles de
escolas de samba na avenida. Porto Alegre, principalmente, por ter acesso às
apresentações bilionárias de São Paulo e Rio de Janeiro como (ridículo)
comparativo. Realmente, nunca gostei e considerava desperdício de tempo e de
dinheiro. Ficar horas sentada em uma arquibancada vendo fantasias e carros alegóricos
passarem achando que estão contando histórias que fazem sentido, jamais esteve
nos meus planos. A meu ver, sempre tiveram nexo apenas no imaginário de quem os
cria, mas esse é um papo para outra ocasião.




Em certos momentos da vida cheguei, inclusive, a me manifestar contra o
carnaval, dizer que era dinheiro público gasto em “besteira” e que este deveria
ser destinado à saúde e educação. Mas com o passar do tempo – e certa
maturidade, por assim dizer, ainda bem - enxerguei outra realidade: a da roda
monetária girando graças à dedicação de pessoas que trabalham durante meses
para viver em poucos dias um sonho que proporciona alegria a milhões de foliões
de plantão.




Porto Alegre me mostrou isso no último sábado, quando tive a oportunidade de
caminhar pelos bastidores da festa que recebeu o nome “Carnaval da
Resistência”, que não poderia ter ganhado outro, senão este. O legítimo tapa de
luvas.




Durante algumas horas eu presenciei o brilho no olhar de quem brigou pela Festa
de Momo para que ela acontecesse, depois da interrupção de um ano devido a
cortes de orçamento municipal e, possivelmente, brigas internas entre os
envolvidos com sua organização. Sim, ela aconteceu sem verbas públicas, sem arquibancada, com
materiais reciclados, dinheiro da comunidade e o amor de quem acredita no
projeto, ratificando o nome escolhido para mostrar à sociedade que é possível
levar alegria com união e trabalho em equipe.




Naquela noite eu vi um povo orgulhoso, que lutou com bravura e de cabeça
erguida contra olhares tortos do tipo de gente como eu me sentia antes, quando
considerava uma festa desnecessária. Presenciei pessoas se virando em muitas na
avenida, servidores públicos, inclusive, trabalhando voluntariamente nos
bastidores, resolvendo problemas, coordenando escolas e cuidando para que tudo
desse certo e nada fosse percebido por quem estava lá para assistir o colorido
da festa.




Vi jornalistas preocupados com o melhor ângulo para filmar ou fotografar, tendo
que garantir carregadas as pilhas e baterias de suas câmeras para que nenhum
momento fosse perdido e pudesse colocar em risco seus desempenhos. Foram
muitos, de diversos veículos e, talvez, concorrentes entre si, mas que passada
a escola, saiam juntos dando risada e trocando ideias, aproveitando o dever do trabalho para transformá-lo em diversão.




Eu vi ambulantes circulando pelo povo com comidas e bebidas, tentando ganhar
seu dinheiro de maneira honesta. Vi pessoas simpáticas atrás dos balcões das
lancherias atendendo seus clientes com um sorriso no rosto, talvez querendo
curtir a festa e não podendo, mas torcendo para que chegassem logo aqueles com
fome e sede no meio da noite para poderem, dessa forma, conseguir o retorno
financeiro investido.




Assisti integrantes emocionados por ver o resultado de seus esforços arrancando
salvas de palmas do público. Sim, eles venceram a batalha e estavam na
passarela honrando o símbolo de suas escolas de samba carregado no peito da
camiseta, extasiados por conseguir driblar todas as adversidades e obstáculos
impostos devido o impasse financeiro.




Mas, acima de tudo, e o que certamente foi o que mais me chamou atenção, foi
ter presenciado um povo educado, que jogou lixo no local adequado a noite inteira, dando
pequenos passos até as diversas lixeiras espalhadas por toda extensão da
passarela do samba para largar seus resíduos. Encantada com a cena, cheguei a conversar
com algumas pessoas quando presenciei o ato surpreendente para mim e natural
para eles. Suas expressões de espanto pela minha reação me deixaram
envergonhada. No entanto, foram estes que me mostraram o poder da cultura e da
educação, ao contrário do que presencio na minha cidade toda vez que acontece
uma festa púbica na praça central.




Vivi nesse sábado emoções que poucos conseguirão entender. Foi uma experiência
sensacional proporcionada por um amigo, Carlos Hoffmann, que me acolheu de maneira tão gentil e
generosa, mesmo estando para lá e para cá na avenida a noite toda, pelo segundo dia consecutivo, exaustivamente garantindo a organização
do evento.




Sentimento ímpar de quem presenciou empenho e dedicação de muitos profissionais
que deixaram suas famílias em casa por este compromisso e abriram mão do descanso
merecido do fim de semana para mostrar que é possível colocar na avenida um
carnaval lindo e empolgante, dando um tapa de luvas merecido em quem lutou
contra sua realização.



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