O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira (29) a imposição de tarifas de 10% sobre madeira bruta e serrada e de 25% sobre móveis estofados, armários de cozinha e gabinetes de banheiro. A medida foi assinada com base na Seção 232 da Lei de Comércio de 1974, mecanismo que permite a adoção de tarifas sob o argumento de proteção à segurança nacional, já utilizado anteriormente para aço e alumínio.

O impacto imediato deve ser sentido pelo Canadá, principal fornecedor de madeira ao mercado norte-americano. No entanto, os efeitos também se estendem ao Brasil, que tem nos Estados Unidos um dos maiores destinos de suas exportações do setor. A preocupação é maior na região Sul — Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul — responsável por cerca de 90% da produção nacional de madeira processada e móveis.

As tarifas entram em vigor no dia 14 de outubro, mas estão previstas elevações progressivas: a partir de 1º de janeiro, os móveis estofados passarão a ser taxados em 30% e os armários e gabinetes em 50%, caso os países exportadores não cheguem a acordos específicos com Washington.

Justificativa americana

Segundo a Casa Branca, as importações estariam enfraquecendo a economia e a segurança dos EUA, provocando fechamento de serrarias, redução na utilização da indústria local e dependência de insumos estratégicos. O documento oficial cita usos da madeira em setores de defesa, como transporte de munições, abrigos militares, componentes de sistemas antimísseis e proteção térmica para veículos de reentrada nuclear.

Trump argumentou que, sem as tarifas, os Estados Unidos poderiam não atender plenamente às necessidades de infraestrutura crítica e defesa nacional.

Reflexos no Brasil

A indústria brasileira de madeira e móveis já vinha enfrentando dificuldades desde julho, quando Trump anunciou a intenção de aplicar tarifas mais pesadas ao setor. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), cerca de 4 mil trabalhadores foram demitidos entre julho e setembro, o que corresponde a aproximadamente 2% dos empregos formais do setor, estimados em 180 mil no país.

As exportações brasileiras para os EUA, que historicamente absorviam cerca de metade da produção nacional, registraram quedas entre 35% e 50% no volume embarcado em agosto, em comparação a julho. Empresários relatam cancelamentos de contratos e insegurança em manter a produção voltada ao mercado externo.

Contexto político e econômico

A decisão faz parte de um pacote mais amplo de medidas protecionistas anunciadas por Trump. Além da madeira e dos móveis, estão previstas tarifas sobre medicamentos patenteados e caminhões pesados já no início de outubro. O gesto reforça a estratégia eleitoral do presidente norte-americano de se apresentar como defensor da indústria e do emprego doméstico, ainda que a decisão acirre tensões comerciais com parceiros estratégicos.

No Brasil, representantes da indústria afirmam que a medida poderá ter efeito devastador para um setor que já lida com altos custos de produção, valorização do dólar e retração do consumo interno. A expectativa é de que o governo brasileiro busque diálogo diplomático para tentar amenizar os impactos, mas, até o momento, não houve anúncio oficial de medidas compensatórias.

Com as novas tarifas, a tendência é que indústrias brasileiras, sobretudo as da região Sul, tenham de buscar novos mercados consumidores para evitar cortes mais profundos na produção e no emprego.