Brasil completa 10 anos sem casos de raiva humana transmitida por cães
Marco é atribuído a campanha integrada do SUS com vacinação em massa de cães e gatos e disponibilização gratuita de vacinas e soros antirrábicos para animais e para pessoas expostas, assegurando tratamento pós-exposição (PEP) quando necessário

O Brasil atingiu nesta segunda-feira (29/09) a marca de dez anos sem registros de raiva humana transmitida por variantes virais típicas de cães (AgV1/AgV2), segundo comunicado do Ministério da Saúde. O resultado, celebrado como um avanço histórico em saúde pública, é creditado a uma estratégia integrada do Sistema Único de Saúde (SUS) que combina campanhas massivas de vacinação de cães e gatos, distribuição gratuita de vacinas e soros antirrábicos, resposta rápida a focos e fortalecimento da vigilância epidemiológica.
— É com muito orgulho que celebramos 10 anos sem casos de raiva humana transmitida por cães em nosso País. Um resultado histórico, fruto de campanhas de vacinação de cães e gatos, distribuição gratuita de vacinas e soros para toda a população, e dedicação incansável dos profissionais do SUS — declarou Mariângela Simão, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, destacando que entre 2023 e 2025 o Ministério da Saúde investiu cerca de R$ 231 milhões por ano em imunização.
Últimos registros e contexto regional
O último caso de raiva humana associado a variantes caninas no Brasil ocorreu em 2015, no Mato Grosso do Sul, na região de fronteira com a Bolívia; antes disso, houve um registro em 2013, no Maranhão. A América Latina, desde a criação do Programa Regional de Eliminação da Raiva pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) em 1983, reduziu casos em cerca de 98% — de aproximadamente 300 registros naquele ano para apenas 3 em 2024, segundo dados citados pelo ministério.
Reconhecimento internacional e próximos passos
O governo brasileiro prepara o dossiê de eliminação que será entregue à OPAS/OMS em 2026, com mais de uma década de evidências epidemiológicas. Caso seja validado, o Brasil se tornará o segundo país nas Américas a receber esse reconhecimento, depois do México.
— Enquanto o mundo ainda registra cerca de 60 mil mortes por raiva canina por ano, o Brasil já é uma referência global — afirmou Simão ao reforçar que a estratégia segue os princípios da abordagem “Uma Só Saúde”.
A estratégia
Autoridades do Ministério da Saúde apontam para quatro pilares que sustentaram a conquista:
- Vacinação em massa de cães e gatos — campanhas periódicas com ampla cobertura territorial para interromper a transmissão.
- Disponibilização gratuita de vacinas e soros antirrábicos — para animais e para pessoas expostas, assegurando tratamento pós-exposição (PEP) quando necessário.
- Resposta rápida a focos — investigação epidemiológica e ações de bloqueio em áreas de risco.
- Fortalecimento da vigilância — integração entre serviços de saúde humana e animal, com notificação e monitoramento sistemáticos.
O ministério também destaca a articulação com estados e municípios, capacitação de profissionais e campanhas de educação à população sobre a importância da vacinação de pets e do cuidado com mordidas e arranhões.
Riscos remanescentes e alertas de especialistas
Apesar da vitória contra a raiva canina transmitida por cães, especialistas e autoridades chamam atenção para a necessidade de manter vigilância ativa contra outros reservatórios animais, como morcegos e primatas não humanos, que continuam a representar risco de transmissão. A manutenção de estoques de soros e vacinas, a manutenção das campanhas de vacinação de animais domésticos e o fortalecimento da detecção precoce são apontados como essenciais para consolidar o status alcançado.
A abordagem “Uma Só Saúde” — que integra saúde humana, animal e ambiental — é citada como base para ações futuras, porque favorece cooperação entre setores e respostas mais eficazes a zoonoses e ameaças emergentes.
O que o público deve fazer
As autoridades reforçam recomendações básicas: manter a vacinação de cães e gatos em dia; procurar atendimento de saúde imediatamente em caso de mordida ou arranhão por animal; e seguir orientações dos programas de controle animal locais. A continuidade do engajamento da população e o investimento público são considerados decisivos para que o país preserve a conquista.
Desafios para a consolidação
Para que o reconhecimento internacional se concretize e o país sustente a eliminação, será preciso garantir financiamento contínuo para campanhas, capacidade logística nos municípios, manutenção de estoques de soros e vacinas e vigilância laboratorial e epidemiológica eficiente — inclusive em áreas remotas e fronteiriças.
Com a entrega do dossiê à OPAS/OMS prevista para 2026, o Brasil busca agora a validação internacional do seu trabalho — um passo que, se confirmado, transformará a década de esforço em um exemplo replicável para outras regiões do mundo em luta contra a raiva.
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