Novas experiências na rotina ajudam a melhorar a memória, aponta estudo
Pesquisa canadense mostra impacto de inserir diferentes vivências no cotidiano. Saiba como você pode tornar seu dia a dia mais estimulante

Gabriela Cupani
Agência Einstein
Pequenas mudanças na rotina podem fazer toda a diferença na memória, no bem-estar geral e até mesmo na percepção da passagem do tempo. Embora pareça óbvio, essa constatação foi comprovada cientificamente por uma pesquisa, publicada no periódico Scientific Reports, que mostra como é importante para a saúde incluir novas experiências no dia a dia.
Cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, aproveitaram a pandemia de Covid-19 como uma oportunidade de investigar os efeitos de uma rotina marcada pela falta de diversidade e de alterações na memória e no humor, bem como avaliar o impacto de inserir eventos diferentes no cotidiano.
Para isso, selecionaram um grupo de 18 idosos saudáveis, que foram orientados ao longo de oito semanas a fazer alguma vivência diferente a cada dia – como um passeio no parque, por exemplo. Tanto os eventos rotineiros como os extraordinários foram registrados em um aplicativo de celular em áudio e vídeo, reportando também o estado emocional dos voluntários.
Ao fim do acompanhamento, os eventos considerados únicos foram relembrados com uma riqueza muito maior de detalhes, e o incremento deles na rotina foi associado com melhora do bem-estar, afeto positivo, menos tédio e sensação de percepção da passagem do tempo.
Segundo os autores, embora a rotina seja importante para organizar o dia a dia, essas experiências não rotineiras conseguem quebrar a monotonia, descrita como um estado emocional negativo que gera incapacidade de se engajar com o meio, o que pode aumentar a ansiedade e a depressão.
Para a médica Sley Tanigawa Guimarães, coordenadora da pós-graduação em Medicina do Estilo de Vida do Hospital Israelita Albert Einstein, isso ressalta a importância dos desafios no nosso dia a dia e está associado ao papel do estresse.
— Embora geralmente tenha uma conotação ruim, ele é necessário em certa medida, pois quando não há nada para resolver, nenhum desafio a enfrentar, ficamos entediados e isso não faz bem para a saúde mental e o bem-estar. Para estar bem, o cérebro precisa estar engajado em atividades, sendo estimulado — diz a especialista.
É por isso que, quando não há grandes novidades e temos a sensação de viver sempre o mesmo, as horas passam mais arrastadas. Segundo Guimarães, isso também pode acontecer quando estamos envolvidos em atividades que dão apenas prazer instantâneo, como passar horas em redes sociais.
— Essas atividades produzem uma descarga de dopamina no cérebro que dá uma falsa sensação de prazer, mas, como na realidade não há nenhum desafio, vem aquele sentimento de que os dias, meses e até anos se passaram e nem percebemos — explica. — É a emoção que ajuda a criar memórias.
E para estimular o cérebro e formar boas lembranças, não precisa fazer algo extraordinário, como uma grande viagem: pode ser aprender um instrumento, ler um livro, fazer um caminho diferente, aprender uma língua, praticar uma atividade física ou socializar.
— Tudo isso ajuda a sentir prazer, traz afeto positivo, nos tira da zona de conforto e nos leva a conviver com outras pessoas.
Além da melhora imediata no humor e bem-estar, a longo prazo essas pequenas quebras na rotina podem estimular a atenção, o foco e a memória. Vale lembrar que, especialmente nos idosos, o isolamento e a falta de atividades é um fator de risco para o declínio mental — e os achados do estudo abrem uma possibilidade de intervenção para esse público.
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