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São Jerônimo, RS,03/09/2025

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João Adolfo Guerreiro

JOÃO ADOLFO GUERREIRO | ‘Si vis pacem, para bellum’

'Se queres paz / Te prepara para a guerra'

Arquivo Pessoal
JOÃO ADOLFO GUERREIRO | ‘Si vis pacem, para bellum’

João Adolfo Guerreiro

A primeira vez que ouvi isso foi assim, na canção Hora do Mergulho, do Engenheiros do Hawaii: "Se queres paz / Te prepara para a guerra". É uma variação em português para o provérbio latino que dá título a essa crônica, atribuído a Flávio Vegécio, um autor romano do século IV ou V, que era um estrategista militar. O sentido é claro: "Quanto mais forte tu aparentar ser, mais seguro e em paz ficará, pois os outros temerão te atacar".

Lembrei disso assistindo no jornal televisivo Hora Um o desfile militar na China em comemoração aos 80 anos da vitória contra o Japão (1), na Segunda Guerra Mundial. O líder chinês Xi Jinping disse que o mundo, hoje, faz uma escolha entre a guerra e a paz. Ao seu lado, Putin. Sabe qual a estimativa de ucranianas e ucranianos mortos em combate, no front, hoje? Entre um milhão e quinhentos e um milhão e oitocentos. Estimativas de analistas militares estadunidenses. Toda uma geração de pessoas no ápice produtivo e reprodutivo daquele país. Uma hecatombe humana e demográfica que fará da Ucrânia, aconteça o que aconteça, um país disfuncional no futuro. Como disse Exupéry, a guerra não é uma aventura, é uma doença. Concordo plenamente, mas acho que é até pior do que isso, pois a Covid-19 não matou tanta gente na Ucrânia.

No desfile, armamentos de última geração, dentre eles misseis nucleares hipersônicos de fabricação chinesa, capazes de destruir o mundo. Sacaram a contradição da aplicação atual do provérbio latino? A paz garantida por armas do fim do mundo! Lembram daquela cena final antológica de um dos filmes do Planeta dos Macacos dos anos 1960, onde os primatas, por ignorância e estupidez, fazem explodir uma bomba nuclear e terminam com o mundo? Imaginem, isso soa atual!!! Aliás, começo a perceber, com desconforto, que canções do tempo da Guerra Fria tenham sua mensagem igualmente atualizada. Escutava por esses dias Crazy Train, do Ozzy, e percebi sua letra soando novinha em folha.

Por outro lado, a barbárie e a coerção pelas armas está na ordem do dia e solapa as formas mais democráticas e humanas de convivência entre os povos, a política e a diplomacia. Bibi mata de fome e bombardeia os palestinos em Gaza, numa atrocidade genocida motivada por uma vingança insana e sem limites. Trump, além de acossar o mundo economicamente e interferir politicamente na soberania dos países americanos, agora manda uma frota naval coagir militarmente a Venezuela. Por mais problemas democráticos que a Venezuela possua - e mesmo o governo brasileiro de esquerda reconhece isso ao vetar a entrada daquele país no BRICS - é inadmissível que algo assim aconteça. Trump é um sujeito lamentável, totalmente desprovido de pudores e compostura. Até a democracia americana, a primeira e a mais sólida do mundo, corre perigo. Nunca imaginei ver isso.

Trump, Zelensky, Putin, Hamas, Bibi, Deus nos livre desse enorme saco de gatos. Nenhum escapa, não há inocentes, são todos culpados. Não coloco Xi no saco porque o lance dos chineses é grana, não estão fazendo guerra com ninguém. A China é, nesse sentido, um pais politica e diplomaticamente parecido com o Brasil, mesmo tão díspare culturalmente. A China é tudo que o Brasil seria se tivesse uma indústria mais forte e avançada e armas modernas, nucleares. Por exemplo: Trump se mete com a Coreia do Norte? Não. O motivo? Kim Jong tem um míssil nuclear pra chamar de seu e apertar o botão de lançamento. Logo, respeita.

É o mundo de hoje, que se parece cada vez mais com uma guerra entre facções criminosas. E, nesse mundo, está o Brasil e sua circunstância, como diria Ortega Y Gasset: nossa soberania sob ataque, com o governo atual dos EUA tentando intimidar nosso STF; nossa economia acossada desde o dia 6 de agosto por tarifas injustificáveis do ponto de vista da balança comercial entre os dois países, bilionariamente (em dólar!) favorável aos estadunidenses. Bom, se nem o Canadá e a Suíça escaparam da sanha de Trump, o que dirá nós do terceiro mundo, não é mesmo?

Saibamos defender o Brasil tanto de seus algozes estrangeiros quanto dos inimigos internos a eles aliados, essa quinta coluna nacional de extrema-direita. Eis nossa circunstância atual, eis a tarefa que nos cabe. "Si vis pacem, para bellum".

(1) - Interessante como as coisas mudaram na geopolítica nos últimos 80 anos, né? Na década de 1940, após o primeiro ataque aéreo que os EUA fizeram contra o Japão, seus bombardeiros pousaram na China, que era um país dos Aliados. O Japão fazia parte do Eixo, junto com Alemanha e Itália. Os EUA, por sua vez, enviaram muitos equipamentos militares para a União Soviética, alimentando a força bélica russa contra os nazistas alemães no Front Leste, sendo que os alemães invadiram a Rússia entrando pela... Ucrânia! Israel ainda não existia, somente a região da Palestina, sob controle da Inglaterra. Inclusive, um regimento britânico denominado Regimento Palestino foi criado, lutando contra o Eixo e os nazistas que perseguiam judeus. 




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