Desafeto citado por autor de ataque em escola de Charqueadas não existe, diz polícia
Segundo delegado responsável pelo caso, alvo foi inventado para justificar o ataque com coquetel molotov e machadinha

Instituto Estadual de Educação Assis Chateaubriand, em Charqueadas, ocorrido na
última quarta-feira (21), a Polícia Civil já chegou a uma conclusão: o desafeto
mencionado pelo autor confesso do ataque — e que seria o alvo das
agressões — não existe.
Quando foi apreendido, o adolescente de 17 anos mencionou apenas um apelido da
pessoa que supostamente queria matar. Segundo ele, seria um ex-colega que
cometia bullying, e o ataque seria uma vingança. O fato de o adolescente não
saber o nome completo do suposto inimigo fez a polícia desconfiar da existência
dele.
— Ele não sabia o nome do desafeto e nos deu só um apelido. Nós conversamos com
professores e diretores do Assis Chateaubriand, e ninguém conhece este apelido.
Posso afirmar que o desafeto mencionado por ele não existe. Foi uma desculpa
que o adolescente inventou para justificar o ato — garante o delegado Marco
Schalmes, titular da Delegacia de Polícia de Charqueadas, que está à frente da
investigação.
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A inspiração no ataque de Suzano, em São Paulo, também é tida como certa pela
polícia. Os principais indícios são o depoimento do adolescente e o objeto
utilizado no ataque, uma machadinha.
A Polícia Civil chegou a analisar as redes sociais do autor confesso do ataque,
mas não encontrou publicações violentas — apenas foi identificado que ele
seguia pessoas que postavam conteúdo violento. A análise do celular apreendido
ainda depende de autorização judicial.
Informalmente, investigadores já conversaram com os diretores das três últimas
escolas pelas quais o adolescente passou — incluindo a Assis Chateaubriand. A
partir desta segunda-feira (26), eles serão ouvidos formalmente, assim como os
21 alunos da turma atacada e o professor que acompanhava o grupo.
— Os três diretores confirmaram um perfil mais isolado, que demonstra timidez.
Mas não havia histórico de violência do aluno. A partir de hoje, vamos ouvir os
estudantes feridos e os que estavam na sala atacada para criarmos mais provas.
Hoje e amanhã pretendo finalizar estes depoimentos — diz o delegado.
O adolescente entrou pelo portão principal da escola depois de ter deixado a
irmã no colégio. Depois, acendeu o coquetel molotov em uma sala de aula e
desferiu golpes de machadinha em alguns alunos. Três ficaram feridos, e outros
três também receberam atendimento médico no hospital da cidade.
RESPONSABILIZAÇÃO
O delegado Marco Schalmes afirma que o adolescente será responsabilizado pela
prática de ato infracional análogo ao crime de tentativa de homicídio
qualificado — por motivo fútil, emprego de explosivo e meio que dificultou a
defesa das vítimas.
Neste caso, serão consideradas 22 tentativas de homicídio, de 21 alunos e um
professor. O delegado entende que os materiais levados pelo adolescente tinham
um potencial para causar a morte de várias pessoas.
— Com apenas um artefato, houve danos significativos. Havia mais três artefatos
(coquetéis molotov) que estavam prontos para serem acionados, e que não foram
devido à intervenção de um professor. Com estes artefatos e mais a
machadinha, entendo que existia potencial lesivo para matar todos que estavam
na sala de aula.
Um dia após o ataque, o Ministério Público ofereceu representação pelo ato
infracional análogo a duas tentativas de homicídio e explosão. Dependendo do
inquérito entregue pela polícia, novos elementos poderão ser acrescentados ao
processo.
— Oferecemos representação com base nas informações que tínhamos no dia. Se a
polícia trouxer um elemento novo, a gente faz um aditamento. Dependendo,
podemos adicionar novas informações ao processo — esclarece a promotora de
Justiça da Infância e da Juventude de Charqueadas, Daniela Fistarol.
O adolescente está internado provisoriamente em uma unidade da Fundação de
Atendimento Socioeducativo (Fase). Ele poderá ficar lá de maneira provisória
por 45 dias e, neste período, a Justiça da Infância e da Juventude de
Charqueadas deverá tomar uma decisão sobre a medida socioeducativa aplicada. Se
a sentença for por internação, ele poderá ficar até três anos recolhido, mesmo
depois de completar 18 anos.
Aos policiais, o adolescente revelou o desejo de cometer suicídio após o
ataque. No local onde está internado, ele recebe acompanhamento psicológico.
As informações são da GaúchaZH
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