Setores produtivos reagem com forte preocupação à tarifa de 50% imposta pelos EUA a produtos brasileiros
Representantes da indústria e do comércio exterior manifestaram forte apreensão após o anúncio do presidente Donald Trump

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto provocou reações imediatas e preocupadas de diversas entidades do setor produtivo no Brasil. A medida, considerada excessiva e sem justificativa econômica, é vista como um risco grave às exportações e à estabilidade das relações comerciais entre os dois países.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que não há “qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho” e alertou para os potenciais impactos sobre a indústria brasileira, altamente conectada ao sistema produtivo norte-americano. “Uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia. O mais importante agora é intensificar as negociações e o diálogo para reverter essa decisão”, declarou o presidente da entidade, Ricardo Alban. Ele defendeu uma comunicação contínua e construtiva entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos.
A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) também classificou o anúncio como preocupante, lembrando que os EUA foram o segundo maior destino das exportações gaúchas em 2024, com mais de US$ 1,8 bilhão. A entidade destacou que produtos industrializados como químicos, máquinas, alimentos processados, calçados e couro compõem grande parte da pauta de exportações e alertou que a medida afeta a previsibilidade e a competitividade da indústria brasileira.
O setor calçadista foi um dos que mais reagiram. A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) demonstrou “surpresa e preocupação” com a decisão. Segundo o presidente-executivo Haroldo Ferreira, a medida representa “um grande balde de água fria” em um momento em que o setor vinha retomando espaço nos EUA. Em junho, as exportações do setor aumentaram 24,5%, impulsionadas por um crescimento de quase 40% nas vendas para os Estados Unidos.
A Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) apontou que a tarifa compromete empresas que investem em tecnologia e geram empregos qualificados. “Uma tarifa de 50% torna praticamente inviável esse tipo de operação, afetando diretamente o faturamento, a rentabilidade e os empregos de qualidade dessas empresas”, afirmou o presidente da entidade, José Ricardo Roriz. Ele ainda alertou que o impacto atinge toda a cadeia produtiva, afetando setores como alimentos, automóveis, fertilizantes e logística.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) também reagiu, afirmando que a tarifa tornará o custo da carne brasileira inviável para o mercado norte-americano. A entidade pediu que disputas geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global e à segurança alimentar. “Estamos dispostos ao diálogo para evitar que essas medidas afetem o setor produtivo e os consumidores americanos”, declarou a associação.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) avaliou que a nova alíquota tem reflexos diretos sobre o agronegócio nacional, com efeitos no câmbio e no custo de insumos. Em nota, a bancada ruralista defendeu uma resposta firme e estratégica, destacando a importância da diplomacia. “É momento de cautela e presença ativa do Brasil na mesa de negociações”, diz o comunicado.
Já a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) classificou a medida como “uma das maiores taxações da história do comércio internacional”. Segundo o presidente-executivo José Augusto de Castro, trata-se de uma ação política com forte impacto econômico. “Além de dificultar o comércio com os EUA, a medida pode gerar insegurança entre importadores de outros países”, avaliou.
A AEB alertou que o cenário é grave não apenas para exportadores, mas para toda a economia brasileira. “Esperamos que o bom senso prevaleça e que essa taxação seja revertida”, concluiu Castro.
A tarifa de 50% foi anunciada por Donald Trump em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual o republicano critica o tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro e acusa o Brasil de promover “ataques às eleições livres” e à liberdade de expressão. O governo brasileiro, por sua vez, já indicou que responderá com base na Lei da Reciprocidade Econômica.
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