Carlos Lupi deixa o Ministério da Previdência após crise envolvendo descontos ilegais no INSS
Saída ocorre em meio a pressões políticas e denúncias de fraudes; Lula nomeia Wolney Queiroz para o cargo

O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), pediu demissão nesta sexta-feira (2) após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Palácio do Planalto. A saída do titular da pasta ocorre em meio ao escândalo envolvendo descontos irregulares em aposentadorias e pensões do INSS, que já soma quase R$ 8 bilhões em cobranças indevidas desde 2016 — a maior parte registrada a partir de 2023.
Em comunicado nas redes sociais, Lupi afirmou deixar o cargo “com a certeza de que meu nome não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso”. Apesar disso, sua permanência havia se tornado insustentável, segundo avaliação do Planalto, devido à pressão política e à percepção de omissão diante das denúncias.
Lula escolheu o secretário-executivo da pasta, Wolney Queiroz (PDT-PE), para substituir Lupi. A nomeação será publicada ainda nesta sexta-feira no Diário Oficial da União.
Crise no INSS e pressão política
A crise teve início após a Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU) em 23 de abril. A investigação revelou que associações e sindicatos vinham realizando descontos em folha de pagamento de beneficiários do INSS por meio de convênios com o órgão — muitas vezes sem autorização dos aposentados ou sequer o seu conhecimento.
Segundo a PF, entre 2019 e 2024, as cobranças indevidas ultrapassaram R$ 6,3 bilhões. Se considerados dados desde 2016, o valor sobe para quase R$ 8 bilhões. Embora o esquema tenha se iniciado em gestões anteriores, o volume de irregularidades disparou a partir de 2023, durante o terceiro mandato de Lula.
A Presidência tentou conter o desgaste afastando o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e nomeando o procurador Gilberto Waller Júnior para o cargo. No entanto, a mudança foi imposta diretamente por Lula, sem participação de Lupi, o que gerou incômodo no PDT e no próprio ministro.
Parlamentares da oposição aproveitaram o episódio para pedir a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara e também articulam uma CPI Mista no Congresso. O senador Ciro Nogueira (PP-PI) lidera o movimento.
Acusações de omissão e defesa de Lupi
Embora não haja indícios de que Lupi tenha participado do esquema, ele foi alvo de críticas por suposta omissão. Órgãos como a CGU, o Tribunal de Contas da União (TCU), o Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS), auditores do próprio INSS e veículos da imprensa alertaram para as irregularidades ao longo de 2023 e 2024.
Em sua defesa, Lupi afirma que tomou medidas após as denúncias, inclusive determinando auditorias internas no órgão. "Eu pedi, à época, que o INSS começasse a apurar as denúncias apresentadas. Levou-se tempo demais", afirmou durante reunião do CNPS no dia 28 de abril. Ele também alegou que os alertas iniciais eram baseados em denúncias sem documentação comprobatória.
O governo anunciou a suspensão de todos os convênios com as entidades investigadas e garantiu que os valores descontados de forma indevida serão devolvidos aos beneficiários.
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