Agência Brasil

A ocorrência de quatro fenômenos naturais extremos — terremotos, tsunamis, furacões e erupções vulcânicas — coloca 3.722 espécies de vertebrados terrestres em risco de extinção. A conclusão é de um grupo de 26 pesquisadores de 17 instituições do Brasil e de outros países.

As espécies ameaçadas representam cerca de 11% do total de 34.035 analisadas. Foram consideradas ameaçadas as espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios com ocorrência restrita ou populações reduzidas em idade reprodutiva, cuja distribuição geográfica inclui áreas historicamente sujeitas a esses fenômenos naturais.

O estudo também analisou espécies com pelo menos um quarto de sua distribuição em áreas de alto risco relativo de impacto por esses fenômenos. Dentre essas, 2.001 espécies foram identificadas como estando sob alto risco de extinção.

Entre os vertebrados, a classe mais ameaçada é a dos répteis, com 834 espécies em alto risco de extinção. Em seguida vêm os anfíbios (617), aves (302) e mamíferos (248). Os furacões e os terremotos são os fenômenos naturais que mais ameaçam essas espécies, com 983 e 868 espécies em alto risco, respectivamente. Tsunamis e vulcões têm impactos menores, afetando 272 e 171 espécies em alto risco, respectivamente.

Sem proteção

De acordo com Carolina Carvalho, pesquisadora do Instituto Tecnológico Vale (ITV-DS) e da Universidade de São Paulo (USP), 30% das espécies classificadas como em alto risco não estão protegidas por áreas de conservação ou planos específicos de proteção. "Esse resultado é bem preocupante", afirma Carvalho.

A região do Círculo do Fogo no Pacífico apresenta as espécies mais ameaçadas por vulcões, terremotos e tsunamis. Furacões ameaçam mais os animais no Mar do Caribe, Golfo do México e noroeste do Pacífico. As ilhas abrigam 70% das espécies ameaçadas por fenômenos naturais estudados. Entre as espécies ameaçadas estão o panda (Ailuropoda melanoleuca), o rinoceronte-de-Java (Rhinocerus sondaicus) e uma espécie de tartaruga de Galápagos (Chelonoidis donfaustoi).

No Brasil, o impacto é menor, já que os fenômenos naturais estudados não ocorrem frequentemente no país. Apenas duas espécies brasileiras endêmicas foram identificadas como altamente ameaçadas: o lagarto-da-areia (Liolaemus lutzae), encontrado nas praias do Rio de Janeiro, e a rã-grilo-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus cambaraensis), do sul do país. Ambos foram classificados em risco de extinção devido a eventos de baixa magnitude ocorridos em 2004.

Furacões

Carvalho ressalta que a proteção de populações ameaçadas por furacões e tsunamis deve envolver a conservação do habitat. "Barreiras naturais como mangues, dunas e recifes de corais são importantes para proteger essas áreas durante impactos desses fenômenos", afirma.

Gato-do-mato-pequeno corre risco de extinção |  Frame/Programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar/Fundação Grupo Boticário

Ela também sugere que criar áreas de conservação e conectar fragmentos de vegetação nativa pode ajudar a ampliar a área de distribuição das espécies ameaçadas. No entanto, para eventos naturais graves como erupções vulcânicas, medidas de conservação ex situ, como programas de cativeiro ou translocação para outras áreas adequadas, podem ser necessárias.

O estudo não incluiu possíveis efeitos das mudanças climáticas, mas a pesquisadora observa que fenômenos influenciados pelo clima, como furacões, estão aumentando em frequência e magnitude, o que pode ter impactos significativos na biodiversidade.

Participaram do estudo cientistas da USP e do ITV-DS, além de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e instituições de Moçambique, Dinamarca, Suécia, Holanda, Suíça, Espanha, Reino Unido, Singapura, Austrália, Canadá e Estados Unidos.