João Adolfo Guerreiro
JOÃO ADOLFO GUERREIRO | Inteligência Natural II
A vida é feita de momentos únicos

João Adolfo Guerreiro
O café fumega no copo, sublinhando os livros sobre a mesa. A cena é real, as sensações são naturais. Não há intermediação, a não ser a do vidro entre os ambientes, interior e exterior: vozes e aromas num; chuva e vento noutro.
A leitura, assim protegida e ambientada, dá vazão a reflexões e sentimentos bem específicos, próprios daquele tempo, espaço e clima: o homem é um ser físico e espiritual, ambas as dimensões em relação dialética hegeliana entre si e com o meio ambiente, totalidade. O que experimenta e ingere o define naquele momento, o conduz por entre si mesmo e pelo mundo, em interação social. Tudo ali é analógico, é natural, é experencial: inteligência natural.
A troca de experiências, via livros, é transcendente ao tempo e espaço, atemporal, e interage com a interação do momento concreto, tornando tudo uma experiência só, interação sobre interação. A vida é feita de momentos, e eles são únicos e fazem viver valer a pena, fazem até sobreviver valer a pena. Que nem é mais pena e também já foi lápis, caneta e agora são teclas a produzir textos. Logo, hoje, atualizando, fazem valer as teclas.
O vidro permite ver além e apreciar, de um ponto de vista confortável, a parte do mundo observável e a vida que passa lá fora. O homem é ele e a sua circunstância, escreveu Ortega y Gasset. Uma simples xícara de café foi o ponto de partida para o complexo e abrangente manual de Sociologia de Giddens, ao passo que os livros físicos sobrevivem analogicamente enquanto mídia num mundo cada vez mais digital.
A inteligência natural determina a inteligência artificial que, conforme Nicolelis, não é nem inteligência e tampouco artificial. Os seres humanos, todavia, interagem e sentem por ambas. A vida, insisto, é feita de momentos, únicos.
Leia mais: Inteligência Natural.

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