João Adolfo Guerreiro
JOÃO ADOLFO GUERREIRO | A Sangue Frio, 60 anos
O crime foi bárbaro: as vitimas foram mortas com tiros de 12 na cabeça

João Adolfo Guerreiro
Publicado em partes pela revista New Yorker, o último capítulo do que viria a ser o livro A Sangue Frio, de Truman Capote (1924 - 1984), foi reproduzido na edição de 25 de setembro de 1965. No mesmo ano, nas primeiras horas do dia 14 de abril, os assassinos Perry Smith e Richard Hickock, personagens reais do livro, foram enforcados. Cinco anos e sete meses antes, em 15 de novembro de 1959, ambos mataram a família Clutter (um casal na faixa dos quarenta e tantos anos, sua filha de 16 e o filho de 15), na minúscula cidade de Holcomb, no Kansas, localizada no chamado Cinturão da Bíblia dos EUA. Com seu livro, Capote fez um romance não-ficcional, a primeira obra do que ficou conhecido como o New Journalism.
Capote tomou conhecimento do crime por uma pequena notícia publicada no jornal New York Times e, um mês depois, já estava em Holcomb, pesquisando sobre tudo o que se referisse ao crime, das vítimas aos criminosos. Para isso, foi ajudado por sua amiga de infância, Harper Lee (1926 - 2016), que participou das conversas com parentes, amigos e conhecidos dos envolvidos, além de pessoas da comunidade. Autora do famoso romance O Sol é Para Todos, Lee, junto com Capote, foi uma das grandes escritoras estadunidenses daquele período, sendo que os dois conviveram na cidade de Monroeville, no Alabama. Capote, inclusive, é retratado, com um nome fictício, em O Sol É Para Todos, eis que o romance tem muito de autobiográfico. Aliás, A Sangue Frio foi dedicado a Harper Lee. Na foto acima, uma imagem dos dois, com Capote autografando sua obra em 1966, quando publicada no formato livro. Mal comparando, seria como se dois escritores de Barão do Triunfo fossem simultaneamente famosos em todo o Brasil.
Além das conversas (que incluíram os dois assassinos), Truman teve acesso aos documentos da investigação policial e do processo. Logo nas primeiras páginas já ficamos sabendo de tudo: quem matou e quem morreu. A força do livro está na narrativa e, a surpresa, na infinidade de detalhes sobre o planejamento, execução, investigação, julgamento e repercussão social do crime. É um texto denso e cru, detalhista, que mostra e fala tudo, muito bem costurado e disposto pelas 400 páginas pelo autor. O crime foi bárbaro e impiedoso: as vítimas foram amarradas e executadas com tiros de espingarda calibre 12 da cabeça. O motivo: roubo.
Dá vontade de esticar mais a conversa, mas não sou de estragar o prazer de possíveis leitores. Recomendo demais a leitura de A Sangue Frio. Após a New Yorker, o livro foi lançado em 1966 nos EUA, em 1970 em Portugal e 1975 no Brasil.
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