João Adolfo Guerreiro
JOÃO GUERREIRO | Fischer e a Literatura ‘NO’ Rio Grande do Sul
Escritor palestrou no IFSul Charqueadas

João Adolfo Guerreiro
Na quinta-feira passada, às 19 horas, fui para o Auditório Antônio Pedro Silva Júnior, no IFSul Câmpus Charqueadas, assistir à palestra sobre Literatura Gaúcha do professor e escritor Luís Augusto Fischer (imagem acima). Quem me alertou para o evento fora a professora e escritora Amanda de Paula, que é aluna dele na pós-graduação UFRGS. Juntos conosco estavam ainda o professor e escritor José Mendes e a bibliotecária Carina Pahim.
Fischer é um dos intelectuais gaúchos cujo trabalho acompanho, junto com o de, por exemplo, Juremir Machado da Silva, dentre outros. Esperava que o auditório de 250 (ou 280?) lugares estivesse lotado, mas não, embora recebesse um público muito bom. Alguém me disse que havia 180 pessoas previamente inscritas para a palestra. Buenas, mas vamos ao que interessa, ou seja, ao que o homem foi lá dizer.
Ano passado estive junto com a Amanda no lançamento de História da Literatura no Rio Grande do Sul, durante a Feira do Livro de Porto Alegre, projeto de vulto, em seis volumes (imagem abaixo), bancado pela editora Coragem, do charqueadadense Thomás Vieira. Excelente a História, recomendo aos interessados pelo assunto que a comprem, vale a pena ter em casa. Pois bem, foi justamente nela que se centrou a fala de Fischer, retomando pontos da, digamos assim, "história da história" da Literatura "NO" Rio Grande do Sul.
E ele iniciou justamente sobre o motivo do título ser "NO" Rio Grande do Sul e não "DO" Rio Grande do Sul. Conforme Fischer - aqui mui sintetizo sua ideia - só faz sentido o "DO" quando se trata de uma literatura de âmbito nacional que se pretenda criadora de uma identidade nacional, pela sua abrangência, sendo que, como a Literatura Rio-Grandense se insere na brasileira, aqui cabe o "NO", mesmo que nosso estado possua uma identidade própria que se reflita nas intenções de sua literatura em retratar o local. Claro, é bem mais complexo que isso, logo indico ler a introdução geral no primeiro volume da História, A constelação romântica, onde ele comenta isso com mais argumentos, como: "Mas, livres de qualquer essencialismo (...). Isso significa que a literatura é, para nós, um fenômeno, uma prática, uma produção discursiva simbólica que ocorre em toda parte de modo muito semelhante quanto a sua produção e circulação, mas pode ser recortada, para observação, em dimensões como a que aqui se pratica, enfocando um estado brasileiro como âmbito, no qual a literatura se forma de modo singular, sem prejuízo de participar de todo o fenômeno literário em si, brasileiro, americano e ocidental" (p.22).
A seguir mencionou o trabalho de dois autores que, no passado, colocaram-se à tarefa de produzir um apanhado da história da literatura gaúcha: João Pinto da Silva, em História literária do Rio Grande do Sul (1924); e Guilhermino Cesar, na História da literatura do Rio Grande do Sul (1956). Fischer chegou a ser aluno deste último, já em final de sua atividade docente, nos anos 1970. Repararam que os livros desses dois usam o "DO", né? O tempo passa e as concepções analíticas teóricas mudam. E por aí seguiu a palestra de Fischer, falando mais coisas, da qual destacaria aqui o volume seis da História.
Intitulado Longas durações, sim, ele destaca o referencial teórico de História, o pensamento do historiador francês Fernand Braudel, autor da chamada "escolas dos Annales" e criador do conceito da "long durée", ou seja, a longa duração, que propõe que os estudos históricos devem se basear em recortes analíticos temporais longos, visando entender as estruturas de determinado fenômeno ou sociedade. Aqui, Fischer explica já na "orelha" do volume: "Este volume seis difere dos demais. Nesses, o recorte obedecia a um fatiamento do processo histórico em momentos distintos; agora se trata de estudar o que estamos chamando, com certa licença, de 'longas durações' - a produção literária de três grandes etnias a formarem o estado (afrodescendentes, germânicos e italianos), a literatura de autoria feminina, a impressionante força do romance histórico, e da mesma forma a longa tradição de traduções entre nós, o memorialismo, até a poética do samba e dos gêneros carnavalescos".
E foi, em parte, isso. A História da Literatura no Rio Grande do Sul, organizada por Fischer, foi escrita com a colaboração de vários autores com conhecimento específico dos temas abordados. Ele disse na palestra que a gênese da ideia de História foi em 1999, mas na introdução geral escreveu que "é preciso registrar que o ponto zero de tudo foi o projeto da História geral do Rio Grande do Sul, coordenado por Tau Golin e Nelson Boeira, que produziu cinco volumes, em seis tomos, entre 2006 e 2009" (p.16). Os outros volumes são: 2 O rumo Moderno, 3 A era Erico, 4 A ditadura e 5 Atualidade.
Ao final de sua palestra, Luis Augusto Fischer foi aplaudido e respondeu perguntas do público. Arrumei tempo pra comprar no local sua novela Na Feira, às 4 da tarde, republicada esse ano pela Coragem, e pedir seu autógrafo. Quanto a nós, satisfeitos, fomos comer uma pizza e tomar um chopp pela noite charqueadense, pois saco vazio não para de pé, principalmente se a cabeça estiver pesando, cheia de boas reflexões literárias.
Um bom final de semana pra todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam, leiam e fiquem com Deus.
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