OPINIÃO | Professor não recebe mal
Nunca vi um professor receber mal o gás de pimenta ordenado pelo gestor do Estado
Professora tira selfie em frente aos policiais do Choque, em Porto Alegre
Tento em poucas palavras desconstruir um grande mito da nossa sociedade: que
professor recebe mal. É uma injustiça sem tamanho esbravejar isso em discursos,
pois poucos profissionais recebem como os professores. A ótica está invertida e
os valores transcendem a moralidade de tudo que fora dito sobre como deveriam
receber os profissionais que atuam na Educação.
Qual professor não ouviu o comentário “Todo professor tem carro bom”, ou “Já
viu professor a pé?”? Como se fosse um absurdo um profissional assalariado
financiar um automóvel. Junto a isso têm os comentários de pessoas que acham
que professor deve dar aula por vocação e não pelo salário, que o professor não
sabe lidar com o seu filho, que o professor não sabe o que fala, que o
professor tem dois meses de férias, que tem folga demais (como se em quase
todas não fossem para preparar aulas ou corrigir trabalhos), que isso e aquilo.
Mas vamos ao mérito do texto. Você conhece algum professor que recebe mal? Se
sim, apresente-me, pois eu nunca vi! Nunca vi um professor receber mal um
aluno, nunca vi um professor receber mal qualquer critica, nunca vi um
professor receber mal as ofensas mensais em seu contracheque, nunca vi um
professor receber mal o gás de pimenta ordenado pelo gestor do Estado, nunca vi
um professor receber mal os juros das contas atrasadas por não receber em dia
seu salário.
Nunca vi um professor receber mal as ofensas de alunos sem limites, nunca vi um
professor receber mal os questionamentos tendenciosos de quem nunca estudou
sobre docência, nunca vi um professor receber mal os socos e pontapés em
agressões diversas, nunca vi um professor receber mal o desmonte de um estado
em favor de uma minoria elitista, nunca vi um professor receber mal as falácias
de um representante público que não frequenta a escola pública, nunca vi um
professor receber mal toda balbúrdia que há em Brasília.
Paguem-no em dia, paguem-no um salário justo e compatível com a sua
qualificação, tratem-no com respeito e educação, tratem-no como Professor.
Mesmo com todas as adversidades os alunos se sentem acolhidos e bem recebidos
por seus professores.
De bem com a vida, de braços abertos e com um sorriso nos lábios, enfatizo, por
fim, que nós, professores, recebemos bem.
(*) Pedagogo, poeta e escritor
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Nota do Editor: a fotografia que ilustra o texto é de autoria da professora Carmem
Lise da Silva Dias e foi tirada durante ato de protesto realizado em frente ao
Palácio Piratini, no dia 26/11/2019.
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