A Comunidade Quilombola Vila do Sabugueiro, localizada na localidade do Potreiro, interior de General Câmara, é um dos principais redutos da ancestralidade negra na região. Formada por 41 famílias remanescentes de quilombolas, a comunidade teve seu reconhecimento oficial apenas em maio de 2014, com a certificação emitida pela Fundação Cultural Palmares.

A origem do nome remete a uma árvore de sabugueiro que existia dentro do território onde a comunidade está estabelecida. Segundo os moradores, o tronco da árvore era utilizado para castigar pessoas negras escravizadas. Ao batizar a comunidade com esse nome, os descendentes prestam uma homenagem simbólica à resistência dos seus antepassados.

Entre os principais sobrenomes que compõem a comunidade estão Santos, Rosa, Baptista e Souza, famílias que mantêm vivas as tradições e os laços históricos transmitidos por gerações. A agricultura de subsistência é a principal atividade econômica local, com os moradores vivendo do que a terra oferece.

Um território de luta e resistência

A trajetória da Vila do Sabugueiro está ligada à própria história da ocupação do território do Vale do Taquari. Desde antes da chegada dos europeus, a região já era habitada por povos indígenas, principalmente de origem Guarani. Com a colonização, indígenas foram utilizados como mão de obra e, posteriormente, escravizados africanos foram trazidos para atuar nas lavouras e construções.

Ao longo dos séculos, muitos negros fugiram dos cativeiros e, com a ajuda de indígenas, formaram quilombos como o da atual comunidade. Após a abolição formal da escravidão, em 13 de maio de 1888, muitos continuaram vivendo sob relações desiguais, trabalhando em troca de moradia ou em condições precárias. Foi nesse contexto que os antepassados da Vila do Sabugueiro conquistaram seu espaço de terra — que, até hoje, abriga seus descendentes.

Durante muito tempo, as reuniões comunitárias aconteciam na casa do casal Eloi da Rosa e Solange da Rosa, onde surgiram os primeiros debates sobre identidade, memória e organização. Hoje, os encontros são realizados na Escola Municipal Maria José de Freitas, consolidando o espaço como ponto de articulação política e cultural da comunidade.

Avanços e desafios

Entre as maiores conquistas da comunidade está, além da certificação, a conquista recente de uma retroescavadeira por meio de emenda parlamentar — equipamento que será fundamental para melhorias na infraestrutura local.

Apesar dos avanços, o acesso a políticas públicas específicas para comunidades quilombolas ainda é um desafio, principalmente nas áreas de cultura, infraestrutura e educação. A luta, no entanto, continua firme, fortalecida pela memória oral e pela união dos moradores.

— Nossa história é contada de geração em geração. A oralidade é a base da nossa resistência. Não deixamos nossas origens morrerem — afirma Daiane Andrea dos Santos da Silva, atual presidente da Comunidade Quilombola Vila do Sabugueiro.

A trajetória da comunidade é mais que uma herança histórica: é um símbolo de resistência, identidade e continuidade, que fortalece a diversidade cultural e social de General Câmara e do Rio Grande do Sul.

Com informações e imagens cedidas por Daiane Andrea dos Santos da Silva, presidente da Comunidade Quilombola Vila do Sabugueiro ao blog Memória e Cultura de General Câmara.