Willian Rafael: de entregador de jornais a fotógrafo premiado
Conheça um pouco da história do jeronimense Willian Rafael, vencedor de um prêmio internacional de fotografia na categoria casamentos

Carla Miller Trainini
Willian Rafael de Souza Ferrão - ou somente Willian Rafael, como se identifica profissionalmente -, tem um estilo próprio de fotografar, um olhar diferenciado, cuidadoso e que emociona as pessoas que confiam a ele os momentos mais importantes de suas vidas. Foram diversos cursos de aperfeiçoamento, conhecimento, experiências trocadas e adquiridas e que hoje resultam em premiações de reconhecimento pelo seu profissionalismo. O último prêmio, inclusive, foi internacional, recebido em março deste ano.
Ex-colaborador do jornal Portal de Notícias, tem hoje 27 anos e cerca de quatro anos de profissão. Neste período, acumulou uma bagagem com, aproximadamente, 700 situações já fotografadas, entre casamentos, aniversários de 15 anos, projetos individuais e festas infantis, tanto em estúdios fechados quanto ao ar livre, em diversos municípios do Estado.
- Lembro uma frase que eu dizia na redação e que meus colegas me xingavam porque sabiam que era preguiça minha de fazer uma tarefa: “não tem como”. Dali nasceu um bordão na redação, uma brincadeira que recordo com muito carinho: “nunca diga não tem como, Willian Rafael”. Isso me marcou. É um ensinamento que carrego comigo - relembra emocionado a frase que o incentiva a seguir em frente.
O começo da carreira
Willian Rafael entrou para o mercado de trabalho aos 14 anos, como entregador de jornal do Portal de Notícias. No mesmo emprego despertou o interesse pela fotografia quando teve contato pela primeira vez com uma câmera fotográfica. Na ocasião, com a ascensão das redes sociais, no início da década de 2000, ganhou a oportunidade de registrar imagens das baladas para postar na internet. Em seguida começou a desenvolver, também, o caderno Mix Mais, que contava com a página social, muitas das vezes com imagens registradas por ele mesmo. Deste momento em diante, a fotografia passou a fazer parte da sua vida e nunca mais parou.
- Meus colegas de redação me xingavam lá no início porque eu acabava perdendo muitas fotografias pelo simples fato de querer mostrar um ângulo diferente sobre aquele fato, enquanto que não precisava, era só registrar e pronto. Hoje meu trabalho se configura como fotografia jornalística. Que ironia do destino. Eu narro uma história que acontece, do início ao fim – conta.
Um pouco mais sobre Willian Rafael
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"Claro que prêmios qualificam um currículo, mas o melhor reconhecimento ainda são os retornos que recebo das pessoas que confiam a mim os seus momentos mais importantes. São áudios e mensagens de noivas chorando, familiares agradecendo as fotos, enfim, me incentivam a seguir em frente e sempre procurar evoluir".
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Gurus na carreira
- Em 2016 fiz um curso com Nei Bernardes e cheguei em casa querendo mudar tudo, como eu fazia antes e como queria passar a fazer. Depois fiz outro, com Robison Kunz e, no ano passado, um sobre tratamento de imagem com a Aline Evelin e o Sergio Nogueira. Além destes, tem a Beth Esquinatti. Finalizei o curso 'Perseguindo fotografias verdadeiras', que foi o que abriu completamente a minha mente. Todos estes professores são fotógrafos de renome. Tenho todos eles como meus gurus porque me apoiam e eu, ao mesmo tempo, me inspiro em seus trabalhos. Tudo o que eu sou hoje, devo muito a eles - reconhece.
Premiações conquistadas
- Depois do curso "Persegindo fotografias verdadeiras”, que mudou a minha vida, eu passei a fotografar mais como jornalista e, consequentemente, isso tem evoluído. Faz três anos que venho tentando concorrer a prêmios, mas foi somente em 2017 que eu consegui ganhar. Foram cinco no total. Este ano, por exemplo, já estou concorrendo a mais um, internacional, inclusive. Claro que prêmios engrandecem currículo, mas o melhor reconhecimento ainda são os retornos que recebo das pessoas que confiaram a mim os seus momentos mais importantes. São áudios e mensagens de noivas chorando, familiares agradecendo as fotos, enfim, me incentivam a seguir em frente – revela.
Momento marcante na carreira
Eu fiz um projeto chamado "Ame-se", no qual fotografei individualmente dez meninas. Meu momento marcante foi com a Daiane Pradella, uma menina linda que sofreu um acidente, ficou entre a vida e a morte, enfrentou diversas dificuldades e uma delas foi ter que amputar a perna. Mas ela tem uma energia tão boa, foi tão gostoso fotografá-la. Então, depois de tudo que ela enfrentou, eu ainda poder mostrar como ela é linda, foi muito bom – conta.
As memórias da infância
- Outro momento marcante na minha carreira foi um curso que fiz fotografando a realidade, em julho do ano passado, durante cinco dias. Cada colega ganhou um tema. Comigo aconteceu de me levarem para o interior do Município de Rolante. Eu caminhava uma média de 10 quilômetros por dia, acompanhando o trabalho de uma assistente de saúde. Foi nesse curso que eu aprendi a ser mais "coração". Meus professores, Nei e Robison, me diziam que eu era bom, mas eu estava começando a achar que era muito mais, muito melhor. Então nesse curso eu aprendi a baixar a cabeça, porque tocou muito fundo as realidades que assisti e fotografei. Eu vivi aquilo tudo na minha infância. Passei sete anos sem água e nem luz dentro de casa, meus irmãos e eu passávamos fome. Nesse curso eu lembrei de tudo aquilo e mudei o meu olhar na fotografia - diz.
Casamentos inesquecíveis
- Tenho três casamentos que fotografei, muito tocantes, e que me marcaram muito. Um deles é o da Fernanda Canan Meine com o Guilherme Arpini, que acabou sendo uma das minhas fotos premiadas. Foi bem legal porque confiaram a mim aquele momento único, a última festa no Brasil antes de se mudarem para a Itália. Uma energia sensacional. O outro foi o último que fotografei, do Gustavo Miller com a Ágatha Teixeira. As fotos foram ao ar nesta semana. Foi muito emocionante. Muitas fotos eu registrei chorando. O terceiro que destaco foi um em Minas do Camaquã, onde passei três dias em uma pousada fotografando a rotina da família, desde o café da manhã, ao chimarrão no meio da tarde e a preparação para ir dormir. Tem uma foto muito engraçada deles matando uma cobra, uma situação supernormal para eles. Foi um casamento pequeno, cerca de 40 pessoas. Me senti como sendo da família naquele momento. Foi muito emocionante – revela.
Dificuldade a ser contornada
- Sempre cuidei para nunca dar um passo maior que a perna. Todo dinheiro que eu tinha, além de investir em equipamentos, usei para construir a minha casa. Então, uma dificuldade que eu ainda enfrento atualmente é o fato de não ter um carro, um dos meus próximos objetivos a ser conquistado. Por esse motivo, sempre deixo a ideia de local por conta da pessoa e dou o meu jeito de ir, seja de carona, seja de ônibus. Mesmo com essa dificuldade, já cruzei praticamente todo o Estado, de ponta a ponta para fotografar - destaca.
Em busca da evolução
- Claro que o segredo de tudo é não se acomodar, sempre procurar evoluir. Hoje o que vejo em mim é que eu preciso ser mais coração. Às vezes eu me perco na hora de fotografar, olho com os olhos do rosto porque quero deixar tudo perfeito, enquanto que para eternizar realmente aquele momento, eu deveria olhar com os olhos do coração. Eu sou muito afoito. Não me considero confortável e nem nunca vou me considerar. Tenho notado muito isso nos cursos que eu faço. Cada um que eu concluo, é um novo olhar que se forma – reconhece.
Entrevista
Onde nasceu o amor pela fotografia?
- Na verdade tudo começou no jornal (Portal de Notícias), quando foi comprada a primeira câmera, uma Fuji, se eu não em engano. Me deram para começar a fotografar e eu comecei a gostar. Naquela época, antes da instantaneidade das redes sociais, se tirava fotos das festas para só depois colocar na internet. Foi ali que eu comecei a despertar para a profissão. Depois disso uma colega de Triunfo, a Tati (Tatiana Vasco) me passou uma formatura. Eu disse que topava, mesmo não tendo nenhum equipamento, porque aquela câmera era do trabalho, não minha. Saí vendendo diversas coisas que eu tinha no quarto para comprar uma câmera, mas no final nem rolou o trabalho. Tem um pouquinho de sorte nisso tudo também, claro. Eu estava no lugar certo, na hora certa, conheci pessoas que me estenderam a mão e eu não desperdicei a oportunidade. Hoje não me vejo fazendo outra coisa.
Como adquiriu a primeira câmera fotográfica?
- Minha primeira câmera fotográfica foi comprada à vista, em 2014. Ela era usada, um modelo profissional, mas que não tinha flash. Foi nesse momento que eu passei a juntar dinheiro para adquirir meus equipamentos. Lembro que faltou dinheiro para o flash. Vendi meu vídeogame para poder comprá-lo. Foi assim que eu comecei.
A fotografia já te levou a conhecer quantos lugares?
- Não sei precisar exatamente por quantas cidades já passei. Novo Cabrais, Santa Cruz do Sul, Bento Gonçalves, Porto Alegre, entre muitos outros municípios. Em quase quatro anos de carreira eu já cruzei praticamente o Estado de ponta a ponta. Isso tem sido bem legal, porque, além de fazer o que eu gosto, me possibilita conhecer novos lugares.
O que você procura fotografar, exatamente?
- Para chegar até o tradicional, tem muita coisa acontecendo antes. São os bastidores que ninguém vê. São essas as imagens que eu procuro eternizar. A preparação, as brincadeiras, as emoções. Tudo isso eu procuro registrar porque em um casamento, por exemplo, os noivos não estão em todos os lugares e eu tenho que estar para que depois eles possam ver tudo o que aconteceu na festa.
Para fotografar um casamento ou um aniversário de 15 anos, quando você considera que é hora de ir embora?
- Se precisar ficar 24 horas fotografando, eu fico. Enquanto eu achar que não tiver encontrado o fim daquela história, eu não vou embora. Penso muito nisso. Seja casamento ou 15 anos, aquele momento é importante, precisam ser registrados o máximo de momentos possíveis para que daqui 30 anos a pessoa se emocione novamente ao olhar o álbum e relembrar cada detalhe daquela festa.
Quais seus planos para o futuro?
- Em abril cruzarei a divisa do estado pela primeira vez para fotografar. Fui contratado para cobrir um casamento em Minas Gerais. Depois disso, no mês de maio, farei outro casamento, em Uruguaiana. Eu já tenho casamento agendado para 2019, em Novo Hamburgo. Enquanto isso, claro, vou continuar fazendo cursos que forem surgindo.
Perfil
- Profissionalmente é conhecido apenas por Willian Rafael
- Tem 27 anos
- Começou a trabalhar no jornal Portal de Notícias, como entregador de jornal, aos 14 anos, seu primeiro e único emprego até virar fotógrafo autônomo.
- Ganhou a oportunidade de trabalhar dentro da redação, fazendo design do caderno Mix Mais. Em seguida começou a tirar fotos de festas para publicá-las no site da empresa. Foi quando parou de fazer parte da equipe de entregadores de jornal.
- Com a ascensão das redes sociais, fotografar baladas já não fazia mais sentido, então, acumulou nova função no jornal, trabalhando com a arte de alguns anúncios.
- Em um determinado momento, já com 20 anos, a ausência de um funcionário fez com que precisasse voltar a trabalhar também como entregador, em virtude de saber a rota de entrega. A função foi exercida até 2016, quando se desligou em definitivo do jornal.
- Quando o amor pela fotografia despertou, de fato, investiu na compra de equipamentos e na carreira, com cursos profissionalizantes.
- Possui certificado de participação em quatro cursos ministrados por fotógrafos de renome nacional: Fotografia fora da zona de conforto, em 2016, com Nei Bernardes; Poder da autoria,em 2017, com Robison Kunz; Meios, em 2017, com Aline Evelin e Sergio Nogueira; Perseguindo fotografias verdadeiras, em 2017, com Robison Kunz e Nei Bernardes.
- Teve diversas fotografias publicadas na Zero Hora, na coluna do leitor.
- Conquistou cinco prêmios até o momento: quatro nacionais e um internacional.
Premiações
* Conquistou o 1º lugar na Associação Amarelos, como fotógrafo na categoria "15 anos". Registro do aniversário de Larissa Tonkel;
* O mesmo aniversário também foi premiado, desta vez pela Associação Fine Art, categoria "debutantes";
* Recebeu premiação pelo 3º lugar, na Associação Amarelos, categoria "ensaios para associação Amarelos". Registro do ensaio de Brenda Perdesini;
* Ficou em 5º lugar na categoria "Formatura", pela Associação Amarelos, com os registros feitos da formatura de Bruna Serpa Domingues;
* Ganhador do prêmio Internacional pela Inspiration Photographers, com os registros feitos no casamento de Fernanda Canan Meine e Guilherme Arpini.
Fotos premiadas
2017 - Associação Amarelos - 1º lugar na categoria quinze anos; Associação Fine Art - foto premiada no Concurso Especial de Debutantes - 15 anos da Larissa Tonkel
2017 - 3º lugar na categoria Ensaios para a Associação Amarelos. Ensaio da Brenda Perdesini
Associação Amarelos - Categoria Formatura - 5º lugar - Formatura de Bruna Serpa Domingues
Prêmio Internacional pela Inspiration Photographers - Casamento Fernanda e Guilherme
Importante
Além de sua página pessoal no Facebook, Willian Rafael possui um site onde divulga o seu trabalho. Para conhecer mais sobre seu olhar diferenciado, basta acessar o endereçohttp://www.willianrafael.com.br
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