OPINIÃO | Um ano após as enchentes de maio de 2024: onde estão as ações que prometem reconstruir?
Que as margens dos rios deixem de ser símbolos de abandono e tragédia e se tornem espelhos de progresso e rentabilidade

Marcelo Noronha*
Passou-se um ano desde que as chuvas torrenciais de maio de 2024 transformaram rios em agentes de destruição, arrastando sonhos, histórias e a sensação de segurança de milhares de pessoas. Hoje, as marcas físicas das enchentes ainda estão visíveis: casas inacabadas, ruas esburacadas, comunidades que carregam no olhar a espera por respostas. No entanto, o que mais preocupa não é o que se vê, mas o que permanece invisível: a ausência de políticas públicas efetivas para mitigar os prejuízos e, principalmente, para evitar que tragédias assim se repitam.
As famílias atingidas seguem sem ver suas demandas totalmente atendidas – indenizações atrasadas, moradias provisórias que viraram permanentes por falta de alternativas, promessas de infraestrutura resiliente que nunca saíram do papel. Enquanto isso, as margens dos rios continuam vulneráveis, ocupadas irregularmente e desprotegidas, como se a memória da água subindo fosse o suficiente para impedir novos desastres. Será que aprendemos a lição? Se outra calamidade ambiental ocorresse amanhã, estaríamos preparados para proteger vidas e reduzir danos? Ou repetiríamos o ciclo de improvisos, desespero e discursos vazios?
É urgente questionar por que, mesmo após um ano, as soluções parecem se limitar a fotografias de autoridades em áreas afetadas, acompanhadas de frases de impacto, mas sem planejamento de longo prazo. As margens dos rios não podem ser palco para políticos de ocasião, que aparecem apenas em momentos de comoção para capitalizar dor em votos. Esses espaços precisam ser tratados como prioridade estratégica: áreas de preservação ambiental, mas também de desenvolvimento sustentável, onde a ocupação humana seja planejada com base em critérios técnicos, não em negligência ou interesses imediatistas.
Que as margens dos rios deixem de ser símbolos de abandono e tragédia e se tornem espelhos de progresso e rentabilidade. Isso significa investir em sistemas de alerta precoce, dragagem regular, habitações populares em locais seguros e parcerias com a ciência para entender as mudanças climáticas. Significa, acima de tudo, ouvir quem foi atingido – porque são essas vozes que sabem, na prática, o que é perder tudo e recomeçar do zero.
Enquanto não houver transparência, responsabilidade e ações concretas, estaremos condenados a repetir o mesmo luto. A pergunta que fica não é se uma nova tragédia virá, mas quando – e, então, quantos mais precisarão chorar o que a inércia dos poderes lhes tomou.
(*) Marcelo Noronha – estudante de Jornalismo
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