Além do planeta, dietas sustentáveis protegem o coração
Pesquisa mostra que adotar uma alimentação que prioriza vegetais e reduz a carne vermelha pode ter efeitos cardioprotetores; saiba o que não pode faltar no prato

Regina Célia Pereira
Agência Einstein
A chamada Dieta Planetária — ou Dieta EAT-Lancet, o mais conhecido exemplo de dieta sustentável — favorece não só o meio ambiente, mas a saúde do coração, de acordo com uma pesquisa publicada em fevereiro no periódico European Journal of Clinical Nutrition.
Pesquisadores da Grécia avaliaram dados sobre o estilo de vida de quase 2 mil pessoas. Tais informações foram extraídas de um estudo prospectivo, o ATTICA, que acompanha, há mais de 20 anos, um grupo com milhares de participantes. Observou-se que entre aqueles que adotam um padrão alimentar sustentável há menor risco para males cardiovasculares.
A forte presença de frutas, hortaliças, grãos integrais, oleaginosas (castanhas, nozes, amêndoas...) e leguminosas (feijões, ervilha, lentilha, grão-de-bico e afins) parece estar por trás dos benefícios. “Esses alimentos são ricos em fibras, gorduras benéficas, sais minerais e vitaminas, além de substâncias de ação antioxidante”, enumera a nutricionista Evangelia Damigou, da Universidade Harokopio, em Atenas, e principal autora da pesquisa, em entrevista à Agência Einstein.
Diversos outros trabalhos já evidenciaram que a maioria desses componentes atua no equilíbrio das taxas de colesterol, do controle glicêmico, da pressão arterial e no combate às inflamações, entre outros efeitos cardioprotetores. O destaque vai para as fibras, as gorduras mono e poli-insaturadas, os minerais como o magnésio, além dos compostos antioxidantes, caso dos polifenóis e dos carotenoides que dão cor aos vegetais.
Também conta pontos a favor a diminuição do consumo de carne vermelha, que geralmente é rica em gordura saturada, cujo excesso tem sido atrelado ao aumento do risco cardiovascular.
A nutricionista Gabriela Mieko Yoshimura, do Espaço Einstein de Reabilitação e Esporte do Hospital Israelita Albert Einstein, acrescenta outros benefícios relacionados aos padrões alimentares sustentáveis. “Esse tipo de dieta costuma conter alimentos de baixa densidade energética e, por isso, pode auxiliar no controle do peso”, comenta. Há ainda indícios de que o cardápio ajude a afastar alguns tipos de câncer, como o de intestino.
O modelo sustentável
Embora a Dieta Mediterrânea abarque preceitos que colaboram para o meio ambiente – e inclusive apareça no estudo grego –, a Dieta Planetária, criada em 2019 a partir de um relatório, é considerada o maior modelo de sustentabilidade.
O documento foi elaborado por uma comissão com 37 estudiosos de 16 países, chamada EAT-Lancet. Além de recomendar uma ingestão maior de vegetais e a diminuição no consumo de itens de origem animal, os cientistas preconizam a redução do açúcar de adição.
No artigo também são enfatizadas questões como a utilização de água na produção de alimentos, o combate ao desmatamento e a redução da emissão de gases de efeito estufa.
Segundo Evangelia Damigou, para ser considerada sustentável, a dieta precisa se adaptar às necessidades específicas de cada população. Além de trazer benefícios para a saúde humana e a do planeta, deve ser culturalmente aceitável, economicamente viável e de fácil acesso.
“Uma sugestão é priorizar os pequenos produtores, da agricultura local”, aponta a nutricionista do Einstein. Ao privilegiar o que está mais próximo, a tendência é de reduzir a emissão de carbono e demais poluentes, afinal, a comida não vai precisar viajar muitos quilômetros para chegar até a mesa do consumidor.
Trata-se de uma estratégia que também ajuda a valorizar itens regionais, enaltecendo a biodiversidade brasileira e combatendo a monotonia alimentar. Nos quatro cantos do país, há uma grande variedade de frutos e hortaliças que esbanjam nutrientes e compostos protetores. Vale ainda incrementar o cardápio com as plantas alimentícias não convencionais, as PANCs, caso da ora-pro-nóbis e da taioba, por exemplo.
Outra dica de Gabriela Mieko é optar, sempre que possível, por orgânicos, já que o cultivo é feito a partir de um maior zelo com o meio ambiente, e esses alimentos não oferecem riscos à saúde, desde que higienizados com capricho.
Priorizar alimentos da época
Dietas sustentáveis destacam ainda a importância da sazonalidade — frutas, verduras e legumes da época são mais saborosos e apresentam menor custo. Aliás, privilegiar o que é sazonal não vale só para o reino vegetal, mas inclui os pescados. Comprar peixes da temporada é uma atitude que respeita o tempo de reprodução e o tamanho das espécies, reduzindo o risco de extinção e garantindo alimento mais fresco.
Por fim, é sempre fundamental salientar o combate ao desperdício. Infelizmente, muita comida vai parar no lixo, seja nos domicílios ou em outras etapas da cadeia produtiva, desde o campo até o comércio.
Para minimizar o problema, a sugestão é começar pelo planejamento do cardápio e das compras. “Outra recomendação é aproveitar os alimentos de maneira integral”, diz a nutricionista do Einstein. Talos, folhagens e até cascas – muito bem higienizadas, diga-se – podem entrar em receitas de tortas, bolos, sopas e tantas preparações.
“A transição para uma dieta sustentável é um processo gradual e individualizado, depende das condições e da rotina de cada um”, comenta. Mas pequenas mudanças já são capazes de promover um impacto positivo para a saúde e o planeta.
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