Júri absolve mulher que matou e incinerou marido em Dom Feliciano
Após mais de 20 anos de agressões, ela matou e queimou o corpo em uma estufa de fumo

Atualizado às 8h08 de 28/04/2022
Em júri popular nesta quarta-feira (27/04), uma agricultora de Dom Feliciano, no sul do Estado, foi absolvida pelo assassinato do marido. Após depoimentos de testemunhas e debates entre defesa e acusação, Elizamar de Moura Alves, 36 anos, que respondia pela morte de Erni Pereira da Cunha, 42, foi absolvida. O Tribunal do Júri durou 13 horas no Fórum de Camaquã.
A decisão do júri, formado por quatro mulheres e três homens, não foi unânime. Por quatro a três, Elizamar foi absolvida de todos os crimes aos quais respondia: homicídio, falsidade ideológica e ocultação de cadáver. O Ministério Público deverá recorrer.
A mulher confessou ter dopado o companheiro e arremessado seu corpo dentro de um forno de secagem de fumo em uma propriedade onde viviam em fevereiro de 2021. A defesa sempre alegou que ela sofria violência doméstica, assim como os dois filhos do casal chegaram a ser ameaçados. Durante o julgamento, arrolada como testemunha de defesa, a filha da ré disse que a mãe sofria abusos físicos e psicológicos.
— Conforme a defesa sempre alegou, a Elizamar foi vítima de violência doméstica durante todo o casamento e ficou comprovado que ela agiu em legítima defesa, levando à sua absolvição — disse o advogado Marcos Hauser.
O júri foi presidido pelo juiz Daniel de Souza Fleury. Por parte do MP, atuou o promotor Francisco Saldanha Lauenstein, que se retirou do plenário do Foro de Camaquã, contrariado com a decisão.
O magistrado já expediu o alvará de soltura da mulher, que estava presa preventivamente desde o ano passado na Penitenciária Feminina de Guaíba.
O CRIME
O crime ocorreu em 15 fevereiro de 2021, na localidade de Colônia Nova, onde a ré vivia com a vítima e os dois filhos frutos da união. O caso ganhou repercussão em maio do ano passado, após a mulher ser presa preventivamente e confessar a autoria do assassinato. Primeiramente, Erni Pereira da Cunha, de 42 anos, foi dado como desaparecido. A acusada, inclusive, chegou a registrar ocorrência sobre o desaparecimento na Delegacia de Camaquã. Todavia, a polícia passou a desconfiar de Elizamar por conta de várias informações de depoimentos dela que não coincidiam.
No decorrer da investigação, as autoridades descobriram que a acusada havia pesquisado na internet, um dia antes do crime, sobre como matar uma pessoa utilizando veneno. O casal estava junto há 21 anos e tinha dois filhos - um rapaz de 20 e uma adolescente de 16 anos. A mulher declarou que, após dopar o companheiro, ela arrastou o homem, ainda com vida, para a estufa de tabaco, que fica nos fundos da propriedade do casal. Nisso, colocou o corpo na fornalha, onde ele ficou queimando por três dias. Laudos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) de Pelotas encontraram fragmentos de ossos na fornalha. A polícia chegou a prender preventivamente o filho mais velho por suspeita de participação no crime. Mas, depois de alguns dias no Presídio Estadual de Camaquã, ele foi liberado por falta de provas. A mulher alega que agiu sozinha.
Ela era ré por homicídio duplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. As agravantes apontadas no processo são: recurso que impossibilitou a defesa da vítima (por ela ter dopado o marido), e emprego de meio cruel (por ter queimado o homem vivo). A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público (MP) em junho do ano passado.
A defesa alegou que Elizamar sofria agressões e ameaças do marido. Porém, de acordo com a polícia, não havia nenhum registro de violência doméstica contra o homem. Mas os filhos confirmaram as agressões e ameaças durante depoimento.
Com informações do portal Clic Camaquã, GauchaZH e Blog do Juarez
Entre no grupo do Portal de Notícias no Telegram e receba notícias da região
COMENTÁRIOS