A lua era o astro regente de sua relação

João Adolfo Guerreiro

No início da noite de quinta-feira ela o chamou pra ver como estava a lua.

- Tu viu? Está tão brilhante hoje.

Sim, estava, muito. Linda. Abraçado nela, recordou de um dia, era abril e estava quente, primeiro ano da pandemia, 2020. Naquela oportunidade sentara ao lado da casa, no mesmo local em que estavam agora, assistindo a lua tomar o céu a leste (foto acima), impávida, enorme e brilhante. Escrevia um texto no computador, pensando sobre a pandemia e seu isolamento social, sentindo-se triste e a bela lua, como a desta quinta, trouxe-lhe esperança junto com uma boa energia. Agradeceu a lua e a Deus. Era um recado. Pelo menos tomou a situação como sendo.

A pandemia foi o desafio mais difícil pelo qual passou, em termos de sobrevivência. O medo concreto da morte, a ausência dos pais, o isolamento. Se o vírus matou fulano é porque o poderia matar também, pensava. Era quase como se fosse uma guerra, a morte rondava e colhia os desprecavidos em cada esquina. Seus instintos, logo, estavam à flor da pele, como o de um gato que subiu na árvore fugindo do cachorro. Era todo sobrevivência e cada minuto, cada hora exigia extrema vigilância. Era cansativo, mas necessário. O que não fazemos quando a vida está em jogo? De onde vem aquela energia inesgotável, que se retroalimenta? Certa vez ouviu falar de um marinheiro que, na Segunda Guerra, após seu navio ser atingido, estava sem os dois braços e mordeu a corda lançada pelo resgate que se aproximou, na luta pela sobrevivência. Era isso.

A D O R A a lua. Mais do que o sol. Por quê? Porque esta se permite observar. O sol não, ele ofusca; a lua, encanta. A luz da lua afaga; a do sol, queima. "Tomo um banho de lua Fico branca como a neve", cantou a Celi Campello, e ele a entendia muito bem. Tomava muito banho de lua, como naquele dia de abril de 2020. A lua nunca estivera tão bonita, eis que ele sabia que, num descuido ou fatalidade, seus dias nesse plano físico poderiam ser extremamente encurtados. Via isso acontecer todos os dias, sabia de conhecidos que...

A lua estava igualmente tão bonita na quinta-feira passada, enquanto a observavam, abraçados. A lua era o astro regente de sua relação, sempre que aparece assim no céu, comentam presencialmente ou virtualmente: a lua os conecta, é o seu signo. A adrenalina do risco e do perigo jamais o atraiu, mas sim as comodidades do bem-estar e do conforto. Como as que sentia na quinta-feira passada, observando a lua, abraçado nela, corações batendo calmamente no mesmo compasso, compartilhando amor, usufruindo saúde e em paz.

A lua nos conecta, a todos, mais do que o sol. Era o que ele pensava naquele momento.

Uma boa semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.