Farsul calcula dívida do produtor gaúcho em R$ 72,82 bi
Presidente da Fetraf/RS crê que pode ser insuficiente a prorrogação a ser votada pelo CMN

A dívida dos produtores rurais do Rio Grande do Sul atingiu o montante de R$ 72,82 bilhões, segundo um levantamento divulgado pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul). O estudo detalha que R$ 36,75 bilhões correspondem a dívidas de custeio, enquanto R$ 36,07 bilhões são relacionados a investimentos. Se forem considerados apenas os vencimentos previstos para 2025, o valor da dívida chega a R$ 22,32 bilhões em custeio e R$ 5,41 bilhões em investimentos. A Farsul destaca que cerca de 38% dessa dívida vence em um curto espaço de tempo, o que representa uma pressão significativa sobre a liquidez e a saúde financeira dos produtores rurais, exigindo atenção tanto de instituições financeiras quanto dos formuladores de políticas públicas.
A nota da Farsul reforça a necessidade de medidas especiais para lidar com o endividamento dos agricultores, especialmente em um cenário de perda de safra. A entidade defende a implementação de um mecanismo de securitização, que permita reunir diversas dívidas em uma única, com prazos mais longos, como forma de aliviar a situação dos produtores em risco de inadimplência.
Em paralelo, o presidente da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf/RS), Douglas Cenci, se mostrou cético em relação à proposta do Conselho Monetário Nacional (CMN) de prorrogar as dívidas dos produtores rurais. Ele acredita que a medida, que será votada nos próximos dias, não será suficiente para resolver os problemas enfrentados pelos agricultores gaúchos, que sofrem com as sucessivas crises climáticas. Cenci apontou que a prorrogação seria apenas uma solução temporária e não permitiria que os produtores se reestruturassem financeiramente. Para ele, a medida proposta representa uma mera "empurrada para frente" e não considera os produtores que já enfrentam dificuldades estruturais, como aqueles que recorrem ao “rolar” de dívidas para pagar outras, ou os que estão fora do sistema bancário público e devem a cooperativas e cerealistas.
Além disso, Cenci criticou propostas como a do senador Luis Carlos Heinze, que sugere a transformação das dívidas rurais em títulos do Tesouro Nacional, com prazo de pagamento de 20 anos. O dirigente da Fetraf considera essa ideia “utópica” e acredita que é necessário buscar uma solução mais viável, como a proposta da federação, que sugere um parcelamento das dívidas em 12 anos, com juros de 4% para os produtores do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e 6% para os que estão com dívidas em atraso. Cenci comparou essa proposta ao programa Desenrola Rural, criado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), mas afirmou que ele tem beneficiado pouco os agricultores familiares.
Embora adote uma postura mais conciliadora com o governo federal, Cenci não descartou a possibilidade de a Fetraf organizar protestos em resposta à demora na resolução das pendências financeiras dos produtores. Ele afirmou que essa mobilização poderia ocorrer já na próxima semana, caso a situação não seja equacionada de forma satisfatória.
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